Dia da Livraria e do Livreiro comemora-se a 30 de Novembro
Um pouco por todo o país as livrarias preparam-se para comemorar com os seus leitores este dia. A comemoração faz-se, este ano, mostrando ao país uma imensa rede de livreiros prontos para, com máscara e olhos nos olhos, aconselhar livros, aquilo que melhor sabem fazer.
Desde 2012 que se comemora em Portugal o Dia da Livraria e do Livreiro, nessa altura por iniciativa do movimento Encontro Livreiro e a Fundação José Saramago, inspirado por ventos vindos do país vizinho e assinalando o aniversário da morte de Fernando Pessoa e de Fernando Assis Pacheco (este último, precisamente numa livraria de Lisboa) a 30 de Novembro.
Em 2020 e após alguns anos de pausa a RELI – Rede de Livrarias Independentes faz renascer a iniciativa numa altura em que é fundamental salientar a importância que as livrarias independentes têm no tecido cultural das cidades mas também na vida de cada leitor. Para assinalar este dia a RELI recolheu vários testemunhos de leitores amigos das livrarias independentes e criou um cartaz que chama a atenção para a importância da proximidade do leitor com o seu livreiro e com a sua livraria de bairro. Numa altura em que uma pandemia ameaça a sobrevivência das livrarias de proximidade cabe a todos unirmo-nos pelas livrarias indo a livrarias independentes, aconselhando-se com o seu livreiro. Com máscara e olhos nos olhos.
“Um famoso adágio diz que conhecimento é saber que o tomate é um fruto; sabedoria é saber que não se põe tomate na salada de frutas. O mesmo se passa com os livros. Conhecimento é saber que os livros se encontram em todo o lado, mesmo em supermercados e bombas de gasolina; sabedoria é comprá-los nas livrarias independentes, de bairro, de conforto. Ainda por cima com uma vantagem extra: é nelas que pode encontrar verdadeiros livreiros, os linces da Malcata do comércio.”
Pedro Vieira
“Se houvesse um lugar onde pudéssemos partir a qualquer momento para uma aventura diferente, visitar lugares inusitados, entrar pela vida e espírito de pessoas distantes no tempo e no espaço ou diferentes de nós, assim desafiando formas de pensar e de olhar – não iríamos querer protegê-lo a qualquer custo e contra qualquer ameaça?
Mais, se nesse lugar existisse uma pessoa que conhece melhor que ninguém cada porta e para onde ela abre, que porventura nos conhece e sabe de que tipo de aventuras desfrutamos, não quereríamos enaltecê-la pelo papel fundamental que desempenha nas nossas vidas?”
Joana Bértholo
RUI ZINK
“As livrarias independentes dão e são sementes. (De quê? Ora, de mentes.)”
JOSÉ EMÍLIO-NELSON
“As Livrarias Independentes não são lojas vulgares, são unicamente janelas. Abertas aos horizontes. Se as encerrarem, se as deixarmos fechar, não veremos das suas janelas o que se conserva definitivamente ou o que se desvalorizou do passado, ou o que se edita hoje: a edição de autor que se mostra num seu escaparate que não tem espaço noutro lugar; uma colecção de livros seleccionados que revela um outro modo de ler. A raridade erradicada de lojas meramente comerciais. É esse pormenor que nos torna mais humanos, esse pormaior proporcionado pelo bibliotecário alfarrabista, pelo livreiro, que não se reduz a mero desempenho vendedor, mas ao instante que nos proporciona outras percepções mais profundas do conhecimento: o acesso à tradição herdada e à novidade necessária. Por tudo isso e mais, como leitores, exigimos a atenção do Ministério da Cultura. As Livrarias independentes são a porta de um acolhimento de múltiplas janelas que permitem a divulgação da Cultura. Recusamos as censuras por orientações de Economia Política — exigimos que se mantenham abertas ao Futuro!”
JOSÉ CARLOS SOARES
“ Numa Livraria Independente sempre posso encontrar o livro que me quer ou o amigo que me abraça.”
JOSÉ LUÍS PEIXOTO
“A liberdade dos livros e dos livreiros é a mesma. Também a força é a mesma. Livros e livreiros são cheios de vice-versa, passam tanto tempo juntos que, às vezes, deixam de saber distinguir-se. Ninguém tem direito de separá-los. Uns não existem sem os outros.”
JOÃO PINTO COELHO
“Fogaréus na escuridão, Homens e Mulheres, Livreiros de Portugal, náufragos nos sonhos que teimam, eles e elas que fincam as mãos na terra prometida de um cemitério de livros. Há quem se canse, quem não possa, quem se descrave e saia ao largo da nossa vergonha como jangadas de pedra. Estranho arquipélago esse que se dispersa e afunda à vista de um povo cego.
Tão heróis os que ficam a limpar o pó às estantes e a falar pelos seus livros.
A estes e àqueles, bem hajam.“
NUNO MOURA
CATARINA NUNES DE ALMEIDA
“Até quando existirá uma livraria em cada bairro? Até quando iremos herdar esse lugar onde o cheiro se verticaliza e os nomes procuram por nós, muito antes de nós os procurarmos a eles? A livraria do nosso bairro é esse pequeno jardim, pouco regado mas que se equilibra, onde ainda há quem nos trate por tu. Onde ainda há quem trate os livros por tu. Entramos por vezes de rompante, sequiosos, em busca do título impossível. E por ali vamos ficando, à margem dos textos, à margem de nós mesmos, nas voltas do fim da tarde e do princípio do mundo. Nesse pequeno jardim onde não somos clientes, somos amigos. Onde os livros não são objectos, são animais de companhia, são animais de tudo – não existem para as montras, existem para as mãos.”
ANA SARAGOÇA
“Comprar um livro numa livraria é transformar um acto breve numa recordação permanente. É criar um laço com quem nos ajuda e atende olhando-nos nos olhos, sem pressa nem pressão. É um prazer e um aconchego.”
CARLOS CANHOTO
“A cultura não se mede a palmos
As livrarias são cais de embarque para grandes viagens dentro de nós
As livrarias são ternos regaços que aconchegam os sonhos e espantam os medos
As livrarias são oásis que resistem à fúria cega do tsunami tecnológico”
PEDRO GUILHERME-MOREIRA
“E Saramago, num dia de homenagem, deixará, como se vertesse um manto brasonado das mãos finas e delicadas – quem lhe olhasse para as mãos, nunca pensaria menos – a própria substância num discurso impreparado, a loa ao grémio, que emocionará Javier, falo, diz José, do homem que vai à porta da sua livraria vazia e vê a rua cheia de gente e se pergunta porque não entram. Como enchem as ruas e esvaziam as livrarias, porque José, dirá Javier, José perguntará, interessar-se-á pelo papel do livreiro, por saber como irá a vida de quem se dedicará a ele, de como os câmbios sociais e culturais influenciarão o desempenho de uma pequena livraria e angustiarão o pequeno livreiro: “E não entram porquê, se seleccionei bem os meus livros?”, perguntará Javier, sabendo que o espera um abraço ou, se não um abraço, pelo menos uma mão fina e elegante.”
PAULO MOREIRAS
“As livrarias independentes são como aquele velho amigo, aquele que está sempre ao nosso lado, com quem trocamos confidências, histórias e paixões, que nos conhece e nos leva sempre mais longe. Os bons amigos são assim, desafiantes. Viva a ReLI – Rede de Livrarias Independentes.”
CARLA PAIS
“Preservar a literatura é defender quem dela se alimenta, não apenas o escritor mas sobretudo o livreiro que todas as manhãs varre a terra do tapete abrindo caminho à fome de um leitor.”
NUNO CAMARNEIRO
“Num mundo ideal não seria necessário usar a expressão “livraria independente”, porque todas as livrarias o deveriam ser. Independentes dos grandes grupos, dos media, das pressões comerciais e de tudo o resto. Neste caso é o mundo que está errado e o trabalho da Rede de Livrarias Independentes é um apelo constante para lutarmos contra o que vai torto. Se amam os livros exijam às livrarias que sejam tudo o que deveriam ser.”
RUI MANUEL AMARAL
“KIEV
Entre as páginas de um velho livro de contos de Isaac Babel, que comprei em segunda mão numa livraria do Porto, encontro uma etiqueta das linhas aéreas da União Soviética. A etiqueta seguiu com a mala de alguém que viajou até Kiev. Tirando isso e o número do voo, 014828, não há mais informação. Nenhuma referência à data ou ao local de partida.
Talvez o livro tenha acompanhado o viajante até Kiev e regressado com ele a Portugal, e ao Porto. Talvez a etiqueta seja mais antiga do que o livro — uma edição da Portugália, de 1967 — e tenha sido usada como marcador ao longo de vários anos, tendo percorrido as páginas de outros livros. Talvez seja a recordação de uma viagem feliz, ou infeliz, ou nem uma coisa nem outra. Talvez tenha sido o início de qualquer coisa importante, ou o fim, ou apenas uma viagem que não deixou memória.
Há uma longa literatura que existe dentro dos livros, mas que nunca será impressa. Uma literatura secreta transmitida de uma geração de leitores para a seguinte, através de sinais, marcas, notas, pequenos objectos encerrados no interior dos livros. Uma literatura anónima, sem cânone e sem crítica, sem clássicos nem contemporâneos. Visível e invisível.”
TEOLINDA GERSÃO
“Sem os livreiros e livrarias independentes muitas obras com interesse e valor nunca entrariam nas grandes livrarias, e, se acaso entrassem, ficariam atrás de outras, numa prateleira, sem visibilidade, nunca chegando às bancas, e muito menos à luz de uma vitrine.
Creio que todos estamos gratos aos independentes que, por vezes com enorme esforço económico, não querem deixar morrer a literatura.”
JORGE AGUIAR OLIVEIRA
“Orgulho deve ter o soberano que comercializa o sangue das flores em carne viva, embrulhado em papel mortalha, sem hipotecar a alma ao Diabo – Estado – resistindo em não azeitar o risco e o novo, na massa das massas parolas que alimentam de cona d’aço pra cima de puta, o imperial mercado das grandes livra…rias. Se o livreiro independente oferecer as suas vitrinas às criações editadas pelas elites marginais, e não, aos produtores de entretenimento literário e premiados de futuro careca, virá a lucrar amanhã, o amanhã. Até lá, RELI.”
PAULO JOSÉ MIRANDA
“Uma livraria a sério,
com livros de poesia, de filosofia, de ciência,
é um lugar que nos protege,
de entre os muitos malefícios da vida,
de cair na televisão mais próxima.”
FILIPE HOMEM FONSECA
“Em pleno deserto, um copo de água é essencial. Mas é numa livraria independente que se mata a sede.“
RAFAEL DIONÍSIO
” As livrarias independentes e alfarrabistas são espaços de liberdade e descoberta. Vou mais ou menos à procura de uma coisa e encontro outras. Sem elas não tinha encontrado livros e autores que estão “proibidos” no circuito a retalho. São parte da minha vida, assim como as feirinhas de livros. “
AFONSO CRUZ
“Frequentar pequenas livrarias cria enormes leitores”
JOËLLE GHAZARIAN
“Linguagem da independência
Independência é não utilizar os outros, saber escolher, ter gosto, ser responsável. Ela devolve as pessoas a si mesmas, cria relações de igualdade e de diálogo, constrói e faz existir. É isto que acontece com as livrarias independentes.
A sua linguagem independente é a das escrituras, santas ou não, que se fazem verbos. Verbos que, por sua vez, se fazem carne, o livro que livremente escolhemos. O homem, a mulher e as crianças não vivem apenas de pragmatismo: vivem, chegando por vezes a sobreviver, graças aos símbolos. Mas as livrarias independentes superam os símbolos, às vezes manipuladores, porque os realizam sem mistificação. E isto graças à sua resistência dinâmica, responsável, criativa. É nisto que os livreiros não são funcionários. É assim que eles podem enriquecer-nos e enriquecer a sociedade, sem se subordinarem, segundo um espírito democrático que decorre do sentido etimológico da palavra. O que prova, por um lado, que eles não são inúteis, e, por outro lado, que não são terroristas.
Pela sua diversidade e pela paixão depositada nas suas livrarias – só possível pelo exigente espírito de independência graças ao qual se superam –, estes livreiros transmitem de um modo mais real as sensibilidades do mundo – do nosso mundo e do mundo dos outros. Com eles, não nos sentimos limitados pela realidade social, sanitária e económica que nos rodeia: sentimo-nos capazes de a encarar de uma forma mais sã e solidária. É isso que nasce numa livraria independente, acompanhados pelos livreiros sem nos vermos invadidos. É isso que desde há muito vejo e sinto nas livrarias que conheço mais de perto, a Fonte de Letras, a Ler Devagar, a Gato Vadio, a Utopia, a NLF (Nouvelle Librairie Française).
Que os livreiros das livrarias independentes não baixem os braços perante as adversidades que os ameaçam leva-nos a seguir-lhes os passos, impulsionados pela sua forte identidade construtiva, desangustiando-nos, e resistindo, também nós, à mó compressora. O livro não morreu, longe disso – ainda recentemente o vimos nas Feiras do Livro de Lisboa e do Porto. E vemo-lo, em particular, nas qualidades insubstituíveis das livrarias independentes. Os que desejam anunciar a sua morte são agentes dos maus augúrios que andam carreando, num universo hípertecnificado, a morte do pensamento.
Numa livraria independente, é como escrever à mão com uma caneta: sabemos onde estamos, o que fazemos, palpamos as palavras que surgem aos nossos olhos, detemo-nos – para nos reconhecermos como parte de um mundo que nos faz bem e nos dá prazer, com tempo para saber o que fazemos e desejamos.”
VASCO GATO
“Não é pelos tempos que correm. Foi e será sempre assim. A importância das livrarias é igual à importância de se subir ao alto de um monte. Em ambos os casos, são-nos proporcionados horizontes de que nem suspeitamos na vida rasteira que tantas vezes levamos. A leitura tem esse talento para nos multiplicar os olhos, para nos resgatar à cegueira até. É isso que podemos encontrar nas estantes e mesas de uma livraria. Se a isso aliarmos a cumplicidade daqueles que vivem e conhecem com paixão esse labirinto de papel, aumentamos as hipóteses de encontrar as nossas saídas.
As livrarias independentes devem o seu nome à recusa da lógica do aparato comercial. Porém, ao contrário da sua designação, são dependentes de uma coisa: leitores. Que saibamos procurá-las e alimentá-las para que também elas possam continuar a alimentar-nos com o que não é o sabor do momento. Deixemos aos peixes a memória de peixe. Cultivemos para nós a saga das braçadas que nos trouxeram até aqui e nos levarão, espera-se, mais além.”
JOSÉ ALBERTO FERREIRA
“Se tivesse de contabilizar as horas que passo em livrarias, folheando, umas vezes lendo despudoradamente as novidades ou aqueles títulos esquecidos nas prateleiras de baixo que prometem uma descoberta, outras vezes debicando uma página de verso ou prosa, de quando em vez examinando um índice em detalhe, outras vezes ainda em busca daquele livro que ainda não sei e há-de dar caminho a uma ideia de programação, a um artigo ou ensaio em preparação, ou tão-só ao encontro do prazer da leitura, do prazer de passar os olhos e as mãos pelas capas, se contasse cada hora assim passada das cerca de 500.000horas que já vivi (2436557)… se as contasse, dizia, mas não o faço, que estas são contas abertas e os meus caminhos continuam a levar-me a esse lugar de fascínio, onde se vendem livros e com isso tanta coisa mais acontece.
De todas as que frequento, privilégio muito frequentemente as livrarias independentes, lugares de encontro, de tertúlia, de descoberta e de prazer, lugares de culto e de cultura, lugares de livros e de pessoas, tantas vezes de pessoas-livros, como na história do Ray Bradbury. Hoje e cada vez mais, lugares de resistência e de resistentes. Podemos comprar livros em todo o lado, e até em lado nenhum, com a internet. Podemos, mas não é a mesma coisa. Já viram quanto livros de pequenas editoras, de autores menos conhecidos ou marginais desaguam ali e, se não ali, em mais nenhum sítio?”
CARLOS MOTA DE OLIVEIRA
“Abraço Autorizado
( Para a Helena, para a Diana, para o Changuito e para o Victor Rodrigues)
Em tempo de pandemia o mundo e a poesia ficam na mesma. Naturalmente, confesso-vos, o vírus da covid 19 nasceu no interior de uma livraria independente quando alguém comprou um livro do poeta Miguel Serras Pereira ou do poeta Carlos Mota de Oliveira. E assim se narcotizaram.
Com lúcidos pés, alguém nesse dia nos levou. E pergunto: os livreiros/ as entregam o sorriso a quem?”
FRANCISCO BELARD
“Sou um (entre muitos ainda, felizmente) livro-dependente, com ou sem hífen. Ler não mata. E por isso dependo das livrarias independentes, mais do que quaisquer outras. Viva a ReLI.”
.
“Se a nossa sociedade e o nosso país se encaminharem para um mundo sem livros, não estou interessado em fazer parte desse mundo. E quem diz livros diz livrarias, que os mostram e que os fazem circular, e diz bibliotecas, públicas ou particulares, que os adquirem, guardam e também divulgam (mas sem as livrarias não teríamos as bibliotecas). Segundo a tradição dos historiadores, a invenção da escrita é o momento (vários momentos e em vários idiomas, afinal) que marca a transição da pré-História para a História. E esta, que continua, tem no livro uma das suas mais belas, úteis e felizes formas de afirmação. A invenção do livro, esse tão simples (e tão manuseável, atraente, prático, duradouro e até reciclável e biodegradável) instrumento de transmissão do saber, da informação e do prazer, foi um dos grandes feitos daquilo a que chamamos cultura e civilização. O livro fez do papel o seu material ou suporte histórico, e no papel incorporou-se a imagem, e por vezes o som, e a partir daí adquiriu outras formas, que não colidem com as tradicionais, embora possam precisar de fontes de energia, como as electrónicas e as digitais, que o livro clássico dispensa. O livro pode ser um instrumento de estudo e de trabalho, uma forma de afirmação criativa e pessoal, um confronto com o tempo da vida e da História e o registo destas. E também é um meio de reflexão e de prazer, de exercício da imaginação, de conhecimento do mundo ou da recusa deste quando se nos tornou insuportável. Ler ajuda a viver, e ler não mata, mesmo quando se torna um vício. O livro, com as letras e folhas que lhe dão forma, sentido e unidade, documenta a civilização e as suas tão diversas culturas. Nele se fundaram vários sistemas de crenças e descrenças. Através dele se constituíram e transmitiram filosofias, ciências, poesia. Muitos escritores reflectiram sobre o livro; se aqui mencionar Marcel Proust, Jorge Luis Borges, Italo Calvino, Henry Miller, Maurice Blanchot, Umberto Eco, Isaac Asimov ou Alberto Manguel, estou já a omitir outros tantos, ou mais (incluindo portugueses). Sou, como muitos de vós, um dependente do livro. Por isso admiro, prezo e apoio as livrarias, e acima de todas as livrarias independentes, esses lugares onde encontramos obras antigas e novas, de interesse geral ou minoritário, também independentes de tiragens, reputações e sensacionalismos, que representam o passado e o presente, e assim nos garantem um futuro.”
ANTÓNIO GOUVEIA
“Uma livraria independente é também um ninho onde nascem e crescem leitores. E mesmo quando os leitores já são crescidos, lá andam os livreiros, numa azáfama, à procura de “minhocas e de pequenos insetos” para os alimentar com aquilo que mais gostam.”
LEONOR TENREIRO
“Uma livraria é um espaço de sonho para o sonho, onde não há coisas só boas ou só más, onde as cores das lombadas desafiam os cinzentos da vida. E quando são independentes, ganham espaço para outros voos interiores! Cabe-nos a nós, a mim, que escrevo e vejo escrever, que conto e reconto, que leio e oiço, falar disto: temos de honrar as livrarias, as dos recantos contados por dentro, de portas abertas como livros escancarados e secretos, onde pousam os nossos olhos demorados ou só passageiros. Um Viva! Não chega!”
CRISTINA TAQUELIM
“Diversidade , diferenciação e proximidade.
Palavras gratas às livrarias independentes que teimam em oferecer-se como espaços de liberdade e cultura.”
JOÃO CONCHA
“As livrarias independentes são o lugar onde centro, margem e possibilidade se cruzam, num tempo em que o encontro precisa ser inteiro.”
BEATRIZ HIERRO LOPES
“Dickens tinha alguma razão.
Só os livros têm o poder de tornar o pior dos tempos num tempo melhor. De trazer a sabedoria à loucura, de ser a estação da luz no cume da esperança. Por isso a RELI – Rede de Livrarias Independentes, é indispensável. São eles, os livreiros/arqueiros que compõem esta rede, as chamas que nos alumiam neste inverno de desespero. Pelo menos a mim. Que tantas vezes encontro o conforto de um abraço ou de um beijo entre as páginas de um livro comprado “às cegas”. Só a arte salva. Só o amor à arte salva.
Comprar livros à RELI, não é apenas promover a sobrevivência das livrarias independentes: é dar lume à chama que nos aquece o peito. É garantir, pela resistência dos outros, que cada um de nós também resistirá.”
PEDRO MEXIA
“Uma livraria digna desse nome é a que tem livros que procurávamos e livros que nos procuravam.
Sem alfarrabistas nem livrarias independentes, quem mereceria tal nome?”
ANA CRISTINA LEONARDO
“Não exageremos: um livro e um par de botas não são o mesmo. Ao par de botas é aconselhável que se experimente no pé – presencialmente, como sói dizer-se agora. E preferencialmente esquerdo e direito – raras são as simetrias exactas.
Um livro – em papel ou digital – pode com facilidade ser encomendado online. É verdade. E “em caso de dúvida, diga a verdade”, como bem disse Mark Twain a quem, já que metemos o calçado ao barulho, também foi atribuída a frase, “Uma mentira pode dar a volta ao mundo, enquanto a verdade calça os sapatos”.
Dito isto, quando um dia perguntaram à escritora Marguerite Yourcenar se ela poderia viver sem escrever, com a predisposição para não dourar a pílula que se reconhece na autora de “A Obra ao Negro”, a belga respondeu evidentemente que sim, já sem comer nem beber seria difícil.
Poderemos nós viver sem livros? Poder, podemos. E sem livreiros e livrarias? Poder, podemos, embora, como se dizia em campanha publicitária já antiga: “mas não seria a mesma coisa”.
Há quem exalte o cheiro que se respira dentro de uma livraria. Há até quem enalteça o pó dos livros. Outros referem o toque aveludado das lombadas, o manusear das páginas, o encontro com uma frase ou um verso enquanto se busca por um título ou por um autor que depois levamos para casa.
Pessoalmente, aquilo de que mais gosto numa livraria é de poder conversar com um livreiro que sabe do que fala. Quando o livreiro percebe da poda, a descoberta e a surpresa ficam garantidas. Claro que há quem não goste de surpresas, mas se há coisa que esta pandemia provou – se necessário fosse… – é que por muita tecnologia, por muita inclusão digital, por muito streaming, por muitas redes sociais à disposição, a velhinha realidade dos cinco sentidos, incluindo os primitivos olfacto e tacto, são fundamentais ao nosso equilíbrio.
Afinal, “nenhum homem é uma ilha isolada; cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra…”, meditou o inglês John Donne, poeta disponível numa livraria perto de si.”
MARTA TEIVES
JOSÉ CARLOS SEABRA PEREIRA
Quando um homem sente a alma a esvair-se, arrastada na espuma dos dias, revisita o espaço originário ou vai ao templo reencontrar-se com o silêncio dos signos. Confirma então que não há espírito do lugar como o da morada dos textos, na casa de um livreiro independente que os ama.