RELI na Imprensa

Notícias sobre a RELI

in iOnline (Jornal i) – Diogo Vaz Pinto

https://ionline.sapo.pt/artigo/691589/reli-o-virus-ja-fez-cair-as-divisoes-tribais-entre-as-livrarias-independentes

Há muito que se fazia sentir a necessidade de uma rede de apoio mútuo entre as livrarias independentes, e foi a ameaça existencial precipitada pela emergência sanitária que levou finalmente à criação da ReLI, uma associação livre com um programa que pode lançar as bases de uma verdadeira força de resistência cultural e crítica no sector do livro.


É possível imaginar que os bons livros, mesmo se fechados, ainda roguem pragas. As épocas que os ignoram acabam por se pôr a si mesmas de castigo, sofrer duras penas. O que é, de resto, bem merecido. Nada tão severo como o serem avassaladas por populismos, derivas de prepotência autoritária e imbecil, essas formas de histeria que dominam os ímpetos colectivos e que trazem consigo o fedor característico da ignorância. Mas como não lamentar a forma como os deixam para ali, amargurados nas estantes, sentindo a comichão das ideias, as letras apertando como parafusos, mundos condensados em impressões dessas que poderiam beliscar-nos, ajudar nos períodos de vigília, sacudindo o pó do tédio, espreguiçando os nervos. (…)

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Borges, de algum modo, nunca fez outra coisa que trautear uma harmonia vigilante, enquanto percorria o corredor labiríntico de uma biblioteca, ladeado de estantes que se elevavam unindo idiomas às mais extensas regiões. “Estes caminhos foram ecos e passos,/ mulheres, homens, agonias, ressurreições,/ dias e noites,/ fantasias e sonhos,/ cada ínfimo instante de ontem/ e dos ontens do mundo,/ a firme espada do dinamarquês e a lua do persa,/ os actos dos mortos,/ o amor compartilhado, as palavras”… São as palavras laboriosas e ásperas que de “uma boca em pó tornada” encontram um ritmo certo e penetrante para nos fazer entrar por algum lado na infinita trama urdida dos efeitos e das causas, esse espelho em que nos vemos outro, outros, o segredo da metamorfose literal.

Se há um provérbio que nos diz que um mau livro significa a perda de uma boa floresta, um livro enlouquecido com a sua canção quase escarnece da nossa mortalidade. E por instantes dá-nos a sensação de termos bebido um gole de uma lucidez que rejuvenesce de tal modo os sentidos que parece que antes nem éramos nascidos. Um bom livro dá vida com cada incidente, cada virar de página, expondo-nos à sua cadeia de efeitos, ao seu perpétuo susto. Sem os livros não estamos menos perdidos, mas não fazemos sequer ideia disso. Eles servem, não para resolver os problemas por nós, não para nos entregar de mão beijada as soluções, mas para nos manter num estado permanente de alerta, numa prontidão absoluta para agirmos ou reagirmos de forma verdadeiramente criativa e engenhosa. E é bom começar por aí, por reconhecer como estamos a viver um desses momentos em que é imperativo abandonar a atitude de sujeição, não embarcar em delírios nem se deixar paralisar pelo medo. Desde logo porque, como notou Brecht, o fascismo quando aparece tem o travo adocicado e quente de uma bebida reconfortante: “para quem está enregelado até aos ossos, um gole rápido poderá parecer um bom remédio”… Nesta hora, as massas sentem-se confusas. Estamos a ser cilindrados diariamente com orientações dessas que embalam a sociedade como a um berço, reconduzem-nos ao infantário. Os líderes surgem em mensagens transmitidas pela televisão com ar consternado, assumindo um tom paternalista, explicando como devemos lavar as mãos, ter todo o cuidado com uma espécie de bicho papão. Para o nosso bem, todos os nossos movimentos são restringidos, e há uma consistência sinistra nesta campanha, neste saber que nos diminui: são os anúncios dos dados e evidências científicas vincados pelo balanço constante do número de mortos. Não podia ser mais forte o alarido, a sua sedução que nos leva a pactuar, ao ponto de sermos nós a incitar os políticos a irem mais longe.

Mas das páginas dos livros soa uma música estranha, que dá relevo e confere algo de ominoso aos “tambores tresloucados das reinvindicações territoriais irredentistas e das autonomias étnicas que ressoam na selva das cidades”. Isto enquanto os mercados se aproveitam da barafunda para mobilizar recursos. Nos livros, dispensando esse ambiente de sala de aula mais ou menos indigesto, dispõem-se uma série de cenários, hipóteses marciais, campos de treino, e mesmo debandadas, licenciaturas e doutoramentos em fantasia, ilhas do tesouro, as abusáveis Bovarinhas, os virtuosismos à Mr. Darcy, mas tudo isso depende de uma certa capacidade de renunciar e mesmo de enxotar as moscas das trivialidades e urgências com que o nosso tempo nos acossa. Há momentos em que é decisivo estabelecer distinções, perceber como se tornou gratuito e estéril um certo culto que vem imbuindo os livros de uma espécie de patética aura, sobretudo quando em nome de uns raros tudo partilha dessa benevolência acéfala, livros como luzes de enfeite, inutilmente acesos, lâmpadas suspensas e a balouçar tristemente, não iluminando nada, servindo apenas para tornar a noite ainda mais enervante.

Se há por aí muitos “livros velhos, pandectas obsoletas e comentários carcomidos que apenas conservam a sua autoridade num presente coberto de pó” (George Steiner), é cada vez mais azucrinante o número de empertigadas novas adições a essa conta, livros que se empilham e que são eles mesmos uma praga imparável, uma forma de vida que já nasce como excrescência ornamental, e que apenas acelera a morte dos géneros literários, a irrelevância de tudo quanto é dito, transformado logo em ruído. De tal modo que, se Charles Simic declarava que mesmo na poesia só nos restava o fraco consolo servido pelos poetas menores, a determinada altura Tadeusz Różewicz deu-se conta de que “os novos poemas/ publicados nos semanários/ começam a decompor-se/ ao fim de duas ou três horas/ os poetas mortos/ vão-se rapidamente/ os vivos/ cospem/ com pressa/ livros novos/ como se quisessem tapar o ralo/ com papel”. Há muito que isto ficou claro, como era evidente que o negócio dos livros se vinha tornando um negócio miserável, exigindo dos livreiros um espírito constante de desenrascanço, ardis, manobras sinuosas e aterragens com qualquer coisa de felino, mas acabando também por fazê-los definhar entre um número sem fim de burocracias, escolhas cada vez mais difíceis, forçados a andar atrás dos caprichos de clientes sem nada para fazer e que, com a promessa de levarem alguns títulos, esperam dos livreiros que lhes catem os piolhos do ego.

Com tudo isto, os ideais que lhes serviram de balanço para se lançarem no negócio atraídos por uma ideia de partilha aventurosa, vão sendo triturados. E por melhores que sejam os seus argumentos, dão por si ainda mais derrotados, mais humilhados pela realidade e pelos inúmeros leitores que os incentivam, lhes levantam a moral, só para que a sua traição seja ainda mais completa quando, depois, não compram livros e só se interessam mesmo pelas romarias nos dias de finados. Os livros que podiam fazer a diferença, quer queiramos quer não, ferem-nos mais, o seu encanto magoa e seduz com um efeito de encanto venenoso, precisamente porque os “lemos como despojos, como ruínas da textura e do passado e das suas ideias que sobrevivem” (Jorge Carrión). Mas sobrevivem mal, são existências retiradas, em contradição com o tempo que nos foi dado viver, e estão reduzidos a fragmentos, enumerações caóticas, exemplos que nos comovem porque estão ameaçados. Parafraseando livremente uns versos de Biedma, lembram-nos nobres arruinados obrigados a sair de cena, tropeçando nos escombros da magnífica inteligência que nos legaram. Há algo que nos diz que temos pelo menos o privilégio de os ler como se ouvíssemos um condenado proferir as suas últimas palavras. E nós, os últimos leitores de livros, secretamente também nos regozijamos com essa perspectiva que pode até ser bastante exagerada.

Sabemos bem como os rumores da morte dos livros tenderam sempre a sair frustrados, mas isso não significa que não haja uma traiçoeira ternura na forma como ouvimos falar dos esforços dos poucos livreiros que restam, reduzidos à indigência dos seus parcos meios, ou a trabalharem para empresas que, ao mesmo tempo que se desfazem em loas ao descrever os seus particulares talentos, os compensam com ordenados de miséria. Mas da própria literatura que em qualquer era se escreveu, mesmo nos momentos mais negros da história, há uma ânsia de exibir, mais tarde, as cicatrizes de uma verdadeira luta, uma busca, mesmo que por via da destruição, de um novo começo, sobretudo num momento em que tudo à nossa volta parece consumir-se no fascínio pelo ocaso. “Os testemunhos da filosofia, as artes, os historiadores da sensibilidade fazem-se eco dos ‘tempos de encerramento dos jardins do Ocidente’ ao longo das crises da ordem imperial romana, dos medos apocalípticos à volta do Ano Mil, do rasto da Peste Negra e da Guerra dos Trinta Anos”, como nos diz Steiner. Mas também nos lembra que, “desde sempre, os sinais da decomposição, do Outono e da luz que declina acompanharam, nos homens e nas mulheres, a consciência da decrepitude física e da nossa mortalidade comum”.

Talvez o enorme sentido de oportunidade com que o novo coronavírus nos atingiu se ligue a uma sensação de desgaste da Primavera perpétua do consumismo. Enquanto os minúsculos bárbaros fazem as suas rondas sobre o território que desdobrou em aparências e miragens para nos esconder o seu fundo vazio, o seu deserto insaciável, os livreiros aproveitaram esta promessa de caos para dissolverem as fronteiras entre eles, e deram um passo para um concílio das tribos à volta de uma iniciativa comum: a Rede de Livrarias Independentes (ReLI). Mas esta zona de demarcação é importante, desde logo, por expor o fosso que as separa das redes e cadeias dos grandes grupos editoriais e livreiros, que, apesar de se colocarem atrás de uma fachada que engrandece as conquistas civilizacionais, são as responsáveis pelas práticas de canibalismo que tomaram conta do sector, amesquinhando todos os que nele trabalham, e aplicando em desluzir o prestígio que o livro adquiriu ao longo de séculos, fazendo dele outro produto de supermercado. Esta associação livre de apoio mútuo lança-se com uma carta aberta que, infelizmente, ao invés de dirigir-se directamente a todo o leitor português, prefere fazê-lo através dos seus representantes institucionais, a começar pelo Senhor Presidente da República…

Não vale a pena estarmos a reproduzir aqui algumas passagens da carta, que serve para anunciar este movimento associativo dos livreiros independentes para fazer frente aos constrangimentos económicos que foram exponenciados pela pandemia. Há muito que as dificuldades destas livrarias são conhecidas, e o que o vírus trouxe foi a alta probabilidade da extinção da maior parte delas nos próximos meses se não houver medidas de apoio específicas para as contrariar. São, assim, propostas uma série de medidas “emergenciais” que obrigam os poderes do Estado a abandonar a condição das piedosas testemunhas de um acidente, para se decidir de uma vez se as livrarias independentes são para salvar ou deixar morrer. Porque, se até ao momento, em face desta crise, a posição do Ministério da Cultura se resumiu a ter vindo defender que as livrarias continuem abertas, porque os livros são bens essenciais, o certo é que depois nada é feito para proteger a actividade daqueles que têm a autonomia e a liberdade para intervir num terreno onde, sem uma actuação crítica e uma estratégia que não se confunda com meras ambições de lucro mas que garanta a defesa de verdadeiros valores culturais, tudo continuará na mesma. Hoje, a maioria dos espaços a que o público português se habituou a chamar de livraria é uma urdidura sem nada de extravagante, que se afasta cada vez mais dos próprios livros, uma arquitectura onde o próprio ar que se respira tem algo de apressado, encolhe-nos os pulmões, e não se dá por qualquer critério autoral nas escolhas que são feitas. Ao invés de ensinar a ler, são apenas lugares de trânsito onde os livros estão em exposição por tempo muito limitado, e esse espaço pode ser comprado para que o livro, imenso nas suas dimensões, funcione como o seu próprio outdoor. As novidades vão marginalizando a História e até o cânone (qualquer que ele seja), os géneros minoritários são desprezados, enfiados a um canto, e a ordem de arrumação, sujeita a critérios burocráticos e, muitas vezes, aberrantes,  não tem nada daquela espécie de “desordem que faz cintilar os fragmentos de um grande número de ordens possíveis, na dimensão, sem lei nem geometria, do que é heteróclito” (Foucault). Nas livrarias de centro comercial estamos no território da Ortodoxia, essa que, como nos dizia Orwell é desde logo um convite a não pensar – não precisar de pensar. “Ortodoxia é inconsciência.” Ou iliteracia, adianta Steiner, ou um sistema televisivo que funcione vinte e quatro horas por dia. É nesse ponto que estamos. Tudo apenas procede enquanto conteúdo que pode ser adaptado à televisão ou distribuído nas redes sociais. Em breve, as livrarias talvez se dediquem sobretudo a vender t-shirts com citações, pequenos bustos e posters de Kafka, Beckett ou Borges. Ninguém reconhecerá aquela descrição de Benjamin de uma livraria que construa um enredo colocando lado a lado manuais sobre o amor e ilustrações coloridas, que faça cavalgar Napoleão em Marengo ao pé das memórias de uma criada de quarto, e entre um livro sobre sonhos e outro de culinária, ouvindo-se os passos em marcha de antigos ingleses pelos caminhos largos e estreitos do Evangelho. Mas talvez a ameaça existencial para as livrarias independentes que o vírus fez o favor de precipitar, incitando assim os livreiros a unirem-se, quando há muito ficara claro que as suas passadas eram as de um condenado, talvez este momento possa trazer um pouco de esperança, obrigando a que fique gizada uma política específica que há muito este sector exigia.

De resto, nunca é tão evidente a diferença entre o que é essencial e o que é meramente acessório como quando a hora se torna verdadeiramente desesperada. E pode ser que, depois da crise, alguma coisa fique. Vale a pena recordar as palavras de Hermann Hesse com que reagia, num contexto diferente mas que rima com o nosso, a uma certa indiferença face ao destino dos livros e daqueles que trabalham para que estes nos cheguem às mãos. “Por vezes, ironiza-se acerca da actual superprodução livreira no nosso pequeno país. No entanto, se fosse um bocado mais novo e as forças me bastassem, eu hoje não faria outra coisa senão editar e publicar livros. Não devemos suspender este trabalho em prol da continuidade da vida espiritual, esperando o dia em que os países beligerantes terão, talvez, recuperado, nem exercê-lo como um assunto de um breve momento, que se aproveita de uma conjuntura favorável e que, portanto, não necessita de excessivos escrúpulos. A literatura mundial corre um perigo, proveniente das novas edições mal e apressadamente alinhavadas, que é pouco menor do que o da guerra e das suas consequências.”


in Ipsilon (Público) – Lusa

https://www.publico.pt/2020/04/02/culturaipsilon/noticia/covid19-livrarias-independentes-querem-apoios-tesouraria-sobreviver-1910634

Covid-19: Livrarias independentes querem apoios à tesouraria para sobreviver

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Recém-criada Rede de Livrarias Independentes (ReLI) enumera e reivindica várias medidas para os livreiros poderem fazer face à crise provocada pela pandemia.
A ReLI – Rede de Livrarias Independentes, lançada esta quinta-feira, endereçou uma carta aberta aos órgãos de soberania com um conjunto de propostas para ajudar os livreiros a sobreviver à crise, nomeadamente medidas de apoio à tesouraria e rendas.
Numa altura em que as livrarias enfrentam um grave período de crise, com as portas fechadas por tempo indeterminado, devido às medidas restritivas impostas pelo Governo para mitigar a propagação do coronavírus responsável pela pandemia covid-19, dezenas de livreiros uniram-se e elaboraram um conjunto de reivindicações para ajudar a salvar o sector. Umas são “emergenciais”, de execução imediata, e outras são “estruturais”, para serem aplicadas no termo dos efeitos da pandemia, refere a carta, enviada aos jornalistas.


Entre as medidas mais urgentes preconizadas pela ReLI estão a garantia da extensão às livrarias independentes das medidas governamentais de apoio à tesouraria que forem aprovadas para o comércio em geral. A ideia é assegurar que “a banca não exclui o pequeno comércio das candidaturas às linhas de financiamento”.
Os livreiros apelam também a que as compras institucionais – livros e revistas para as bibliotecas públicas, escolares ou municipais – sejam feitas através de consultas preferenciais às livrarias independentes, “mesmo em situações de encerramento temporário forçado”, de acordo com a sua proximidade e não de acordo com o preço.
A este propósito, destacam que o preço deveria ser o do Preço de Venda ao Público (PVP) dos livros ou fixado num desconto mínimo (máximo de 10 por cento) de modo a facilitar e não impedir a participação dos livreiros independentes nas consultas públicas.
“Todos sabemos que não é possível exigir dos livreiros descontos que são muitas vezes iguais ou superiores aos que as condições comerciais praticadas pelas grandes editoras nos permitem”, salientam.

“Tudo o que é bom é feito devagar ou com vagar”: 20 anos de Ler Devagar

As rendas e o risco de despejo são outras das principais preocupações deste sector livreiro, pelo que a ReLI pede apoios financeiros a fundo perdido para reforçar a tesouraria ou ao pagamento das rendas, em articulação com as medidas que vierem a ser aprovadas para o comércio em geral, para a restauração e hotelaria, para as micro e pequenas empresas.
Os livreiros recordam que a especulação imobiliária foi a primeira responsável pelo encerramento de muitas livrarias independentes e do comércio de proximidade em geral, pelo que, “nos tempos que virão, esta é uma cautela que os governos e as autarquias têm que assegurar”.
Os livreiros sugerem também que lhes sejam atribuídos “seguros de salários, ou equivalente, de modo a garantir um rendimento mínimo a todos”, enquanto os efeitos da epidemia durarem. “Em caso de layoff ou situação equivalente, os rendimentos mínimos devem contemplar, obrigatoriamente, os sócios-gerentes das micro e pequenas empresas”, já que muitas vezes esses são os únicos trabalhadores efectivos nos estabelecimentos, e a sua sobrevivência depende exclusivamente do exercício dessa actividade.
Outra das reivindicações preconizadas na carta diz respeito ao apoio directo à constituição da Associação ReLI, nomeadamente para construção de umsite com venda online e georreferenciação das livrarias aderentes à rede, “o qual constituirá o embrião de uma central de compras e de distribuição”.

Livrarias com Selo de Mérito vão receber apoio financeiro para promover a leitura

Ainda no âmbito das medidas urgentes, os livreiros exigem o cumprimento daLei do Preço Fixo, mesmo em tempos de emergência, quer por parte de algumas grandes cadeias de livrarias online – “que praticam descontos acima dos permitidos pela lei –, quer pelas próprias editoras – que concorrem com os sites das livrarias através da venda a retalho nos seus próprios sites”.
Questionado sobre a decisão de algumas editoras/distribuidoras adoptarem medidas de protecção aos livreiros, como o adiamento de prazos de pagamentos, José Pinho, da Livraria Ler Devagar, disse à Lusa que “o problema é o adiamento do problema”.
“Como nas rendas, no layoff, nos empréstimos que não forem a fundo perdido, ou noutra área qualquer, todas estas medidas que até parecem simpáticas e solidárias não passam de medidas proporcionadoras de acumulação de dívida contraídas por empresas que provavelmente, não vendendo, nem daqui a dois ou três anos estarão em condições de a amortizar”, afirmou.
A carta aberta elenca ainda uma série de propostas de medidas estruturais, que os livreiros consideram que, a seu tempo, terão obrigatoriamente de ser discutidas, “franca e abertamente”, no sentido de evitar, de vez, “alguns dos procedimentos que impedem as boas práticas da concorrência”. Por um lado, querem que seja facilitada a participação dos livreiros independentes nas feiras do livro e que seja fiscalizada a aplicação de descontos ilegais.
Ainda no mesmo âmbito, exigem a fiscalização da actividade comercial de venda a retalho de livros, através da Inspecção-Geral das Actividades Culturais (IGAC) e da Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE), para impedir a prática de descontos pontuais acima do permitido e de promoções de duração superior ao estipulado na Lei do Preço Fixo.
No que respeita ao livro escolar, os livreiros apontam a venda ao público feita directamente pelas editoras de livro escolar e os vouchers do Ministério da Educação “que deveria ter sido uma medida para apoiar a rede livreira e afinal não foi”.

Apelam ainda à instalação de novas livrarias, e das que vierem eventualmente a ser despejadas quando terminar o estado de emergência e de calamidade pública, em edifícios que sejam propriedade do Estado, das autarquias e de fundações ou instituições privadas dependentes do Orçamento do Estado.
A carta aberta foi dirigida aos presidentes da República e da Assembleia da República, ao primeiro-ministro, à ministra da Cultura e aos grupos parlamentares da Assembleia da República, com conhecimento dos presidentes das câmaras de Lisboa e do Porto, da Associação Nacional dos Municípios e da Associação Portuguesa de Editores e Livreiros.


in RTP Notícias – Lusa

https://www.rtp.pt/noticias/covid-19/dezenas-de-livrarias-independentes-criam-rede-para-salvar-setor_n1217634

Dezenas de livrarias independentes criam rede para salvar setor

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Mais de meia centena de livrarias independentes de todo o país uniram-se para criar uma rede de cooperação com o objetivo de conjugar esforços para enfrentar a crise no setor, agravada agora pelas condições criadas pela covid-19.
Denominada RELI – Rede de Livrarias Independentes, esta associação livre de apoio mútuo é hoje lançada, juntamente com o respetivo site – www.reli.pt -, e tem como objetivo “coordenar esforços para enfrentar a crise no mercado livreiro, que vem comprometendo, já há vários anos, a existência de pequenas livrarias em todo o país”, referem os livreiros, numa nota enviada à comunicação social.
Esta rede “tem uma causa: conjugar esforços para levarmos por diante os nossos projetos individuais e o grande projeto coletivo que é o de dotar o país de uma rede de livrarias especializadas e de proximidade”, sublinham, numa nota que é assinada, em nome de todos, por José Pinho, da Livraria Ler Devagar, e Rosa Azevedo, da Livraria Snob.
“Acreditamos que a constituição desta plataforma nos vai permitir agregar esforços, juntar todos os livreiros independentes de Portugal – maioritariamente micro e pequenas empresas -, delinear estratégias e ações comuns e enfrentar esta situação inédita, que nos apareceu num momento em que o encerramento das livrarias independentes – empurradas para fora dos seus estabelecimentos pelos efeitos da desenfreada, desnecessária e absurda especulação imobiliária – dava sinais de algum abrandamento”, lê-se numa carta aberta dirigida pelos livreiros aos órgãos de soberania.
Juntamente com o lançamento da rede e do respetivo site, são lançadas duas ações conjuntas, “Livraria às Cegas” e “Fique em Casa”, numa tentativa de manter em movimento o negócio dos livros, procurando fazer face à atual conjuntura.
“Livraria às cegas” é uma iniciativa que desafia o público a escolher um livreiro, pedir-lhe livros “de olhos fechados” e, mediante um pagamento igual ou superior a 15 euros, receber um pacote-surpresa em casa.
A campanha “Fique em casa, mas não fique sem livros” apela aos leitores para que encomendem livros numa das livrarias independentes da rede, e os livros serão enviados sem encargos dos portes de envio.
As duas iniciativas estão no site da RELI, que dispõe também da listagem de livrarias que fazem parte da rede, com as respetivas moradas e contactos.
A RELI pretende ainda que este venha a ser um site com venda online e georreferenciação das livrarias aderentes à rede, constituindo “o embrião de uma central de compras e de distribuição”.
Em tempos de uma crise que nem em tempos de guerra ou de outras calamidades globais foi vivida, porque se trata de uma luta “muito desigual”, em que “não [se sabe] onde estão as armas e não [há] um inimigo declarado à vista”, a RELI está a tentar assegurar a sobrevivência das livrarias independentes, num cenário em que “as ruas estão desertas, e as pessoas, acantonadas em suas casas, não podem sequer ocupar os seus lugares nas trincheiras”.
O comércio fechou, mas a ministra da Cultura, Graça Fonseca, disse que seria possível abrir as livrarias e vender ao postigo, uma hipótese pouco adequada à realidade de uma livraria, e dos clientes que a procuram.
“O problema aqui não é abrir em condições precárias ou não abrir. O problema é que, mesmo que estivessem abertas, as ruas estão desertas e os clientes não saem de casa para ir às livrarias comprar livros”, disse à Lusa José Pinho.


in JN

https://www.jn.pt/artes/-livrarias-independentes-querem-apoios-a-tesouraria-para-sobreviver-12020643.html

Livrarias independentes querem apoios à tesouraria para sobreviver

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A RELI – Rede de Livrarias Independentes, endereçou uma carta aberta aos órgãos de soberania, com um conjunto de propostas para ajudar os livreiros a sobreviver à crise, nomeadamente medidas de apoio à tesouraria e rendas.
Numa altura em que as livrarias enfrentam um grave período de crise, com as portas fechadas por tempo indeterminado, devido às medidas restritivas impostas pelo Governo para mitigar a propagação do coronavírus responsável pela pandemia covid-19, dezenas de livreiros uniram-se e elaboraram um conjunto de reivindicações para ajudar a salvar o setor.
Umas são “emergenciais”, de execução imediata, e outras são “estruturais”, para serem aplicadas no termo dos efeitos da pandemia, refere a carta, enviada aos jornalistas.
Entre as medidas mais urgentes preconizadas pela RELI estão a garantia da extensão às livrarias independentes das medidas governamentais de apoio à tesouraria que forem aprovadas para o comércio em geral.
A ideia é assegurar que “a banca não exclui o pequeno comércio das candidaturas às linhas de financiamento”.
Os livreiros apelam também a que as compras institucionais – livros e revistas para as bibliotecas públicas, escolares, ou municipais — sejam feitas através de consultas preferenciais às livrarias independentes, “mesmo em situações de encerramento temporário forçado”, de acordo com a sua proximidade e não de acordo com o preço.
A este propósito destacam que o preço deveria ser o do Preço de Venda ao Público (PVP) dos livros ou fixado num desconto mínimo (máximo de 10%) de modo a facilitar e não impedir a participação dos livreiros independentes nas consultas públicas.
“Todos sabemos que não é possível exigir dos livreiros descontos que são muitas vezes iguais ou superiores aos que as condições comerciais praticadas pelas grandes editoras nos permitem”, salientam.
As rendas e o risco de despejo são outras das principais preocupações deste setor livreiro, pelo que a RELI pede apoios financeiros a fundo perdido para reforçar a tesouraria ou ao pagamento das rendas, em articulação com as medidas que vierem a ser aprovadas para o comércio em geral, para a restauração e hotelaria, para as micro e pequenas empresas.Os livreiros recordam que a especulação imobiliária foi a primeira responsável pelo encerramento de muitas livrarias independentes e do comércio de proximidade em geral, pelo que, “nos tempos que virão, esta é uma cautela que os governos e as autarquias têm que assegurar”.

Os livreiros sugerem também que lhes sejam atribuídos “seguros de salários, ou equivalente, de modo a garantir um rendimento mínimo a todos”, enquanto os efeitos da epidemia durarem.
“Em caso de ‘layoff’ ou situação equivalente os rendimentos mínimos devem contemplar, obrigatoriamente, os sócios-gerentes das micro e pequenas empresas”, já que muitas vezes esses são os únicos trabalhadores efetivos nos estabelecimentos, e a sua sobrevivência depende exclusivamente do exercício dessa atividade.

Outra das reivindicações preconizadas na carta diz respeito ao apoio direto à constituição da Associação RELI, nomeadamente para construção de um ‘site’ com venda ‘online’ e georreferenciação das livrarias aderentes à rede, “o qual constituirá o embrião de uma central de compras e de distribuição”.

Ainda no âmbito das medidas urgentes, os livreiros exigem o cumprimento da lei do preço fixo, mesmo em tempos de emergência, quer por parte de algumas grandes cadeias de livrarias ‘online’ — “que praticam descontos acima dos permitidos pela lei —, quer pelas próprias editoras — que concorrem com os ‘sites’ das livrarias através da venda a retalho nos seus próprios sites”.


Questionado sobre a decisão de algumas editoras/distribuidoras adotarem medidas que proteção aos livreiros, como o adiamento de prazos de pagamentos, José Pinho, da Livraria Ler Devagar, disse à Lusa que “o problema é o adiamento do problema”.


“Como nas rendas, no ‘layoff’, nos empréstimos que não forem a fundo perdido, ou noutra área qualquer, todas estas medidas que até parecem simpáticas e solidárias não passam de medidas proporcionadoras de acumulação de dívida contraídas por empresas que provavelmente, não vendendo, nem daqui a dois ou três anos estarão em condições de a amortizar”, afirmou.


A carta aberta dispõe ainda de uma série de propostas de medidas estruturais, que os livreiros consideram que, a seu tempo, terão obrigatoriamente de ser discutidas “franca e abertamente” no sentido de evitar, de vez, “alguns dos procedimentos que impedem as boas práticas da concorrência”.


Por um lado, querem que seja facilitada a participação dos livreiros independentes nas feiras do livro e que seja fiscalizada a aplicação de descontos ilegais.


Ainda no mesmo âmbito, exigem a fiscalização da atividade comercial de venda a retalho de livros, através do Inspeção-Geral das Atividades Culturais (IGAC) e da Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE), para impedir a prática de descontos pontuais acima do permitido e de promoções de duração superior ao estipulado na Lei do Preço Fixo.

No que respeita ao livro escolar, os livreiros apontam a venda ao público feita diretamente pelas editoras de livro escolar e os ‘vouchers’ do Ministério da Educação “que deveria ter sido uma medida para apoiar a rede livreira e afinal não foi”.
Apelam ainda à instalação de novas livrarias, e das que vierem eventualmente a ser despejadas quando terminar o estado de emergência e de calamidade pública, em edifícios que sejam propriedade do Estado, das autarquias e de fundações ou instituições privadas dependentes do Orçamento do Estado.
A carta aberta foi dirigida aos presidentes da República e da Assembleia da República, ao primeiro-ministro, à ministra da Cultura e aos grupos parlamentares da Assembleia da República, com conhecimento dos presidentes das câmaras de Lisboa e Porto, da Associação Nacional dos Municípios e da Associação Portuguesa de Editores e Livreiros.


in Expresso – Lusa

https://expresso.pt/coronavirus/2020-04-02-Covid-19.-Livrarias-independentes-querem-apoios-a-tesouraria-para-sobreviver

Covid-19. Livrarias independentes querem apoios à tesouraria para sobreviver
A RELI – Rede de Livrarias Independentes, lançada esta quinta-feira, pede medidas de apoio à tesouraria e rendas

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A RELI – Rede de Livrarias Independentes, lançada esta quinta-feira, endereçou uma carta aberta aos órgãos de soberania, com um conjunto de propostas para ajudar os livreiros a sobreviver à crise, nomeadamente medidas de apoio à tesouraria e rendas.
Numa altura em que as livrarias enfrentam um grave período de crise, com as portas fechadas por tempo indeterminado, devido às medidas restritivas impostas pelo Governo para mitigar a propagação do coronavírus responsável pela pandemia covid-19, dezenas de livreiros uniram-se e elaboraram um conjunto de reivindicações para ajudar a salvar o sector.

Umas são “emergenciais”, de execução imediata, e outras são “estruturais”, para serem aplicadas no termo dos efeitos da pandemia, refere a carta, enviada aos jornalistas.
Entre as medidas mais urgentes preconizadas pela RELI estão a garantia da extensão às livrarias independentes das medidas governamentais de apoio à tesouraria que forem aprovadas para o comércio em geral.

A ideia é assegurar que “a banca não exclui o pequeno comércio das candidaturas às linhas de financiamento”.

Os livreiros apelam também a que as compras institucionais – livros e revistas para as bibliotecas públicas, escolares, ou municipais – sejam feitas através de consultas preferenciais às livrarias independentes, “mesmo em situações de encerramento temporário forçado”, de acordo com a sua proximidade e não de acordo com o preço.

A este propósito destacam que o preço deveria ser o do Preço de Venda ao Público (PVP) dos livros ou fixado num desconto mínimo (máximo de 10%) de modo a facilitar e não impedir a participação dos livreiros independentes nas consultas públicas.

“Todos sabemos que não é possível exigir dos livreiros descontos que são muitas vezes iguais ou superiores aos que as condições comerciais praticadas pelas grandes editoras nos permitem”, salientam.

As rendas e o risco de despejo são outras das principais preocupações deste setor livreiro, pelo que a RELI pede apoios financeiros a fundo perdido para reforçar a tesouraria ou ao pagamento das rendas, em articulação com as medidas que vierem a ser aprovadas para o comércio em geral, para a restauração e hotelaria, para as micro e pequenas empresas.
Os livreiros recordam que a especulação imobiliária foi a primeira responsável pelo encerramento de muitas livrarias independentes e do comércio de proximidade em geral, pelo que, “nos tempos que virão, esta é uma cautela que os governos e as autarquias têm que assegurar”.
Os livreiros sugerem também que lhes sejam atribuídos “seguros de salários, ou equivalente, de modo a garantir um rendimento mínimo a todos”, enquanto os efeitos da epidemia durarem.
“Em caso de ‘layoff’ ou situação equivalente os rendimentos mínimos devem contemplar, obrigatoriamente, os sócios-gerentes das micro e pequenas empresas”, já que muitas vezes esses são os únicos trabalhadores efetivos nos estabelecimentos, e a sua sobrevivência depende exclusivamente do exercício dessa atividade.
Outra das reivindicações preconizadas na carta diz respeito ao apoio direto à constituição da Associação RELI, nomeadamente para construção de um ‘site’ com venda ‘online’ e georreferenciação das livrarias aderentes à rede, “o qual constituirá o embrião de uma central de compras e de distribuição”.
Ainda no âmbito das medidas urgentes, os livreiros exigem o cumprimento da lei do preço fixo, mesmo em tempos de emergência, quer por parte de algumas grandes cadeias de livrarias ‘online’ – “que praticam descontos acima dos permitidos pela lei -, quer pelas próprias editoras – que concorrem com os ‘sites’ das livrarias através da venda a retalho nos seus próprios sites”.

Questionado sobre a decisão de algumas editoras/distribuidoras adotarem medidas que proteção aos livreiros, como o adiamento de prazos de pagamentos, José Pinho, da Livraria Ler Devagar, disse à Lusa que “o problema é o adiamento do problema”.
“Como nas rendas, no ‘layoff’, nos empréstimos que não forem a fundo perdido, ou noutra área qualquer, todas estas medidas que até parecem simpáticas e solidárias não passam de medidas proporcionadoras de acumulação de dívida contraídas por empresas que provavelmente, não vendendo, nem daqui a dois ou três anos estarão em condições de a amortizar”, afirmou.

A carta aberta dispõe ainda de uma série de propostas de medidas estruturais, que os livreiros consideram que, a seu tempo, terão obrigatoriamente de ser discutidas “franca e abertamente” no sentido de evitar, de vez, “alguns dos procedimentos que impedem as boas práticas da concorrência”.
Por um lado, querem que seja facilitada a participação dos livreiros independentes nas feiras do livro e que seja fiscalizada a aplicação de descontos ilegais.
Ainda no mesmo âmbito, exigem a fiscalização da atividade comercial de venda a retalho de livros, através do Inspeção-Geral das Atividades Culturais (IGAC) e da Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE), para impedir a prática de descontos pontuais acima do permitido e de promoções de duração superior ao estipulado na Lei do Preço Fixo.
No que respeita ao livro escolar, os livreiros apontam a venda ao público feita diretamente pelas editoras de livro escolar e os ‘vouchers’ do Ministério da Educação “que deveria ter sido uma medida para apoiar a rede livreira e afinal não foi”.
Apelam ainda à instalação de novas livrarias, e das que vierem eventualmente a ser despejadas quando terminar o estado de emergência e de calamidade pública, em edifícios que sejam propriedade do Estado, das autarquias e de fundações ou instituições privadas dependentes do Orçamento do Estado.
A carta aberta foi dirigida aos presidentes da República e da Assembleia da República, ao primeiro-ministro, à ministra da Cultura e aos grupos parlamentares da Assembleia da República, com conhecimento dos presidentes das câmaras de Lisboa e Porto, da Associação Nacional dos Municípios e da Associação Portuguesa de Editores e Livreiros.


in LUSA (subscritores)

https://www.lusa.pt/article/BCfSms6Rs7SVgzBTips10TMSZM5iuSI1/covid-19-livrarias-independentes-querem-apoios-%C3%A0-tesouraria-para-sobreviver

in LUSA

https://www.lusa.pt/article/BCfSms6Rs7QfGWn49tzTWzMSZM5iuSI1/covid-19-dezenas-de-livrarias-independentes-criam-rede-para-salvar-setor

Mais de meia centena de livrarias independentes de todo o país uniram-se para criar uma rede de cooperação com o objetivo de conjugar esforços para enfrentar a crise no setor, agravada agora pelas condições criadas pela covid-19

Denominada RELI — Rede de Livrarias Independentes, esta associação livre de apoio mútuo é hoje lançada, juntamente com o respetivo site – www.reli.pt –, e tem como objetivo “coordenar esforços para enfrentar a crise no mercado livreiro, que vem comprometendo, já há vários anos, a existência de pequenas livrarias em todo o país”, referem os livreiros, numa nota enviada à comunicação social.

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Esta rede “tem uma causa: conjugar esforços para levarmos por diante os nossos projetos individuais e o grande projeto coletivo que é o de dotar o país de uma rede de livrarias especializadas e de proximidade”, sublinham, numa nota que é assinada, em nome de todos, por José Pinho, da Livraria Ler Devagar, e Rosa Azevedo, da Livraria Snob.

“Acreditamos que a constituição desta plataforma nos vai permitir agregar esforços, juntar todos os livreiros independentes de Portugal — maioritariamente micro e pequenas empresas —, delinear estratégias e ações comuns e enfrentar esta situação inédita, que nos apareceu num momento em que o encerramento das livrarias independentes — empurradas para fora dos seus estabelecimentos pelos efeitos da desenfreada, desnecessária e absurda especulação imobiliária — dava sinais de algum abrandamento”, lê-se numa carta aberta dirigida pelos livreiros aos órgãos de soberania.

Juntamente com o lançamento da rede e do respetivo ‘site’, são lançadas duas ações conjuntas, “Livraria às Cegas” e “Fique em Casa”, numa tentativa de manter em movimento o negócio dos livros, procurando fazer face à atual conjuntura.

“Livraria às cegas” é uma iniciativa que desafia o público a escolher um livreiro, pedir-lhe livros “de olhos fechados” e, mediante um pagamento igual ou superior a 15 euros, receber um pacote-surpresa em casa.

A campanha “Fique em casa, mas não fique sem livros” apela aos leitores para que encomendem livros numa das livrarias independentes da rede, e os livros serão enviados sem encargos dos portes de envio.

As duas iniciativas estão no ‘site’ da RELI, que dispõe também da listagem de livrarias que fazem parte da rede, com as respetivas moradas e contactos.

A RELI pretende ainda que este venha a ser um ‘site’ com venda ‘online’ e georreferenciação das livrarias aderentes à rede, constituindo “o embrião de uma central de compras e de distribuição”.

Em tempos de uma crise que nem em tempos de guerra ou de outras calamidades globais foi vivida, porque se trata de uma luta “muito desigual”, em que “não [se sabe] onde estão as armas e não [há] um inimigo declarado à vista”, a RELI está a tentar assegurar a sobrevivência das livrarias independentes, num cenário em que “as ruas estão desertas, e as pessoas, acantonadas em suas casas, não podem sequer ocupar os seus lugares nas trincheiras”.

O comércio fechou, mas a ministra da Cultura, Graça Fonseca, disse que seria possível abrir as livrarias e vender ao postigo, uma hipótese pouco adequada à realidade de uma livraria, e dos clientes que a procuram.

“O problema aqui não é abrir em condições precárias ou não abrir. O problema é que, mesmo que estivessem abertas, as ruas estão desertas e os clientes não saem de casa para ir às livrarias comprar livros”, disse à Lusa José Pinho.

AL // TDI


in SOL – Mariana Madrinha

https://sol.sapo.pt/artigo/691584/livrarias-independentes-lutam-para-se-manter-a-tona

Os sinais vermelhos do confinamento começam a vir de vários setores, entre os quais o dos livros. Na quarta-feira, a GfK publicou um estudo em que indicava que, na semana passada, os livreiros registaram quebras de quase 66%. Ontem, a RELI – Rede de Livrarias Independentes, lançada precisamente para combater os efeitos da pandemia, endereçou uma carta aberta aos órgãos de soberania em que alencava um conjunto de medidas necessárias para salvar o setor.

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Os livreiros dividem as medidas em dois estágios de execução: algumas são “emergenciais”, devendo ser imediatamente executadas, e as segundas são consideradas “estruturais”, devendo ser aplicadas após a situação aguda do surto de covid-19. Entre as medidas urgentes, os signatários do documento pedem que os apoios de tesouraria que forem aprovados para o comércio em geral se estendam às livrarias. Esta será uma forma de garantir que “a banca não exclui o pequeno comércio das candidaturas às linhas de financiamento”, lê-se na carta aberta.

A RELI pede ainda que os livreiros independentes sejam também vendedores preferenciais das compras institucionais, aquelas que são feitas para as bibliotecas ou escolas, a título de exemplo, “mesmo em situações de encerramento temporário forçado”. Os livreiros pedem também que o preço não seja tido em conta nestes casos. “Todos sabemos que não é possível exigir dos livreiros descontos que são muitas vezes iguais ou superiores aos que as condições comerciais praticadas pelas grandes editoras nos permitem”, lembram. Para combater esta desigualdade, sugerem que o preço deveria ser o do Preço de Venda ao Público (PVP) dos livros ou fixado num desconto mínimo (máximo de 10%), para que assim possam ter alguma hipótese nas consultas públicas que determinam essas vendas institucionais.

Relativamente ao pagamento das rendas, outra das grandes preocupações elencadas, pedem fundo perdido para reforçar a tesouraria ou o pagamento das rendas – isto em linha com as decisões que forem tomadas para o comércio em geral. Já “em caso de ‘layoff’ ou situação equivalente, os rendimentos mínimos devem contemplar, obrigatoriamente, os sócios-gerentes das micro e pequenas empresas”, consideram, explicando que, muitas vezes, são eles próprios os únicos trabalhadores efetivos dos espaços.

A RELI é composta por meia centena de livrarias independentes espalhadas pelo país. A cooperativa nasceu “para coordenar esforços para enfrentar a crise no mercado livreiro, que vem comprometendo, já há vários anos, a existência de pequenas livrarias em todo o país”, definem os próprios.


in Observador – Lusa

Dezenas de livrarias independentes criam rede para tentar salvar setor


As livrarias independentes uniram-se num grande projeto coletivo, “que é o de dotar o país de uma rede de livrarias especializadas e de proximidade”, e escreveram uma carta aberta ao Presidente.
Mais de meia centena de livrarias independentes de todo o país uniram-se para criar uma rede de cooperação com o objetivo de conjugar esforços para enfrentar a crise no setor, agravada agora pelas condições criadas pela Covid-19.

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Denominada RELI – Rede de Livrarias Independentes, esta associação livre de apoio mútuo é esta quinta-feira lançada, juntamente com o respetivo site, e tem como objetivo “coordenar esforços para enfrentar a crise no mercado livreiro, que vem comprometendo, já há vários anos, a existência de pequenas livrarias em todo o país”, referem os livreiros, numa nota enviada à comunicação social.
Esta rede “tem uma causa: conjugar esforços para levarmos por diante os nossos projetos individuais e o grande projeto coletivo que é o de dotar o país de uma rede de livrarias especializadas e de proximidade”, sublinham, numa nota que é assinada, em nome de todos, por José Pinho, da Livraria Ler Devagar, e Rosa Azevedo, da Livraria Snob.
“Acreditamos que a constituição desta plataforma nos vai permitir agregar esforços, juntar todos os livreiros independentes de Portugal – maioritariamente micro e pequenas empresas –, delinear estratégias e ações comuns e enfrentar esta situação inédita, que nos apareceu num momento em que o encerramento das livrarias independentes – empurradas para fora dos seus estabelecimentos pelos efeitos da desenfreada, desnecessária e absurda especulação imobiliária – dava sinais de algum abrandamento”, lê-se numa carta aberta dirigida pelos livreiros aos órgãos de soberania.

RELI lança iniciativas para combater queda de vendas
Juntamente com o lançamento da rede e do respetivo site, são lançadas duas ações conjuntas, “Livraria às Cegas” e “Fique em Casa”, numa tentativa de manter em movimento o negócio dos livros, procurando fazer face à atual conjuntura. “Livraria às cegas” é uma iniciativa que desafia o público a escolher um livreiro, pedir-lhe livros “de olhos fechados” e, mediante um pagamento igual ou superior a 15 euros, receber um pacote-surpresa em casa.

A campanha “Fique em casa, mas não fique sem livros” apela aos leitores para que encomendem livros numa das livrarias independentes da rede, e os livros serão enviados sem encargos dos portes de envio. As duas iniciativas estão nosite da RELI, que dispõe também da listagem de livrarias que fazem parte da rede, com as respetivas moradas e contactos.

A RELI pretende ainda que este venha a ser um site com venda online e georreferenciação das livrarias aderentes à rede, constituindo “o embrião de uma central de compras e de distribuição”.

Em tempos de uma crise que nem em tempos de guerra ou de outras calamidades globais foi vivida, porque se trata de uma luta “muito desigual”, em que “não [se sabe] onde estão as armas e não [há] um inimigo declarado à vista”, a RELI está a tentar assegurar a sobrevivência das livrarias independentes, num cenário em que “as ruas estão desertas, e as pessoas, acantonadas em suas casas, não podem sequer ocupar os seus lugares nas trincheiras”.

O comércio fechou, mas a ministra da Cultura, Graça Fonseca, disse que seria possível abrir as livrarias e vender ao postigo, uma hipótese pouco adequada à realidade de uma livraria, e dos clientes que a procuram. “O problema aqui não é abrir em condições precárias ou não abrir. O problema é que, mesmo que estivessem abertas, as ruas estão desertas e os clientes não saem de casa para ir às livrarias comprar livros”, disse à Lusa José Pinho.


in Visão – Lusa

https://visao.sapo.pt/atualidade/politica/2020-04-02-covid-19-dezenas-de-livrarias-independentes-criam-rede-para-salvar-setor/


Mais de meia centena de livrarias independentes de todo o país uniram-se para criar uma rede de cooperação com o objetivo de conjugar esforços para enfrentar a crise no setor, agravada agora pelas condições criadas pela covid-19

Denominada RELI — Rede de Livrarias Independentes, esta associação livre de apoio mútuo é hoje lançada, juntamente com o respetivo site – www.reli.pt –, e tem como objetivo “coordenar esforços para enfrentar a crise no mercado livreiro, que vem comprometendo, já há vários anos, a existência de pequenas livrarias em todo o país”, referem os livreiros, numa nota enviada à comunicação social.

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Esta rede “tem uma causa: conjugar esforços para levarmos por diante os nossos projetos individuais e o grande projeto coletivo que é o de dotar o país de uma rede de livrarias especializadas e de proximidade”, sublinham, numa nota que é assinada, em nome de todos, por José Pinho, da Livraria Ler Devagar, e Rosa Azevedo, da Livraria Snob.

“Acreditamos que a constituição desta plataforma nos vai permitir agregar esforços, juntar todos os livreiros independentes de Portugal — maioritariamente micro e pequenas empresas —, delinear estratégias e ações comuns e enfrentar esta situação inédita, que nos apareceu num momento em que o encerramento das livrarias independentes — empurradas para fora dos seus estabelecimentos pelos efeitos da desenfreada, desnecessária e absurda especulação imobiliária — dava sinais de algum abrandamento”, lê-se numa carta aberta dirigida pelos livreiros aos órgãos de soberania.

Juntamente com o lançamento da rede e do respetivo ‘site’, são lançadas duas ações conjuntas, “Livraria às Cegas” e “Fique em Casa”, numa tentativa de manter em movimento o negócio dos livros, procurando fazer face à atual conjuntura.

“Livraria às cegas” é uma iniciativa que desafia o público a escolher um livreiro, pedir-lhe livros “de olhos fechados” e, mediante um pagamento igual ou superior a 15 euros, receber um pacote-surpresa em casa.

A campanha “Fique em casa, mas não fique sem livros” apela aos leitores para que encomendem livros numa das livrarias independentes da rede, e os livros serão enviados sem encargos dos portes de envio.

As duas iniciativas estão no ‘site’ da RELI, que dispõe também da listagem de livrarias que fazem parte da rede, com as respetivas moradas e contactos.

A RELI pretende ainda que este venha a ser um ‘site’ com venda ‘online’ e georreferenciação das livrarias aderentes à rede, constituindo “o embrião de uma central de compras e de distribuição”.

Em tempos de uma crise que nem em tempos de guerra ou de outras calamidades globais foi vivida, porque se trata de uma luta “muito desigual”, em que “não [se sabe] onde estão as armas e não [há] um inimigo declarado à vista”, a RELI está a tentar assegurar a sobrevivência das livrarias independentes, num cenário em que “as ruas estão desertas, e as pessoas, acantonadas em suas casas, não podem sequer ocupar os seus lugares nas trincheiras”.

O comércio fechou, mas a ministra da Cultura, Graça Fonseca, disse que seria possível abrir as livrarias e vender ao postigo, uma hipótese pouco adequada à realidade de uma livraria, e dos clientes que a procuram.

“O problema aqui não é abrir em condições precárias ou não abrir. O problema é que, mesmo que estivessem abertas, as ruas estão desertas e os clientes não saem de casa para ir às livrarias comprar livros”, disse à Lusa José Pinho.

AL // TDI


in Governo Sombra (SIC)

https://sicnoticias.pt/programas/governo-sombra/2020-04-04-Ministro-da-paneconomia-Ministro-das-datas-e-Ministro-provisorio

Aos 44:20 minutos


in iOnline (Jornal i) – Diogo Vaz Pinto

https://ionline.sapo.pt/artigo/707010/feira-do-livro-do-armisticio-literario-a-guerra-comercial?seccao=Mais_i

Feira do Livro está de volta, com esperanças embrulhadas em receios, máscaras, desinfectante, distanciamento social, e a pandemia a expor as tensões e desigualdades na guerra feita pelos grandes grupos às livrarias independentes.

Com licença da peste, pelo menos até ver, Lisboa e Porto desdobram hoje e amanhã as suas montras arqueológicas, com os despojos que os livros são, labirintos interiores a aguardar essa mágica que, de umas linhas frias, levanta as “ruínas da textura do passado”, e volta a pôr em ordem as ideias que lhe sobreviveram. Aí está, lá em cima, nos Jardins do Palácio de Cristal, e por cá, de volta ao Parque Eduardo VII, essa ocupação expressiva da cidade por artefactos cujo encanto fica a dever-se a subterfúgios contraespaciais. E neste ano, de tal modo marcado por contrariedades, na capital até se esqueceram das efusivas comemorações pelos 90 anos da Feira do Livro, porque, por uma vez, o estardalhaço não é o mais aconselhável, desde logo porque ninguém pode prever se o evento será bem sucedido, ainda que a APEL, que com a câmara municipal de Lisboa organiza a feira, não tenha prescindido das previsões optimistas, e manifestamente descabidas, ao estimar que o número de visitantes este ano será muito semelhante ao dos anos anteriores, que não andou longe do meio milhão de visitantes. Outro motivo para que o ambiente de fanfarra tenha dado lugar a algo mais sóbrio é o facto de o sector livreiro ter sido dos mais atingidos pela crise pandémica, de tal modo que muitos contam que a feira este ano seja uma oportunidade para recuperar das perdas sofridas nos últimos meses. Segundo estimativas bastante conservadoras da APEL, o sector deverá perder entre 30 a 35 milhões de euros até ao final do ano. A associação que representa editores e livreiros perdeu, há alguns anos, a organização deste evento no Porto, e não faltam testemunhos de livreiros e editores que garantem que a feira da Invicta, a partir do momento em que passou a ser organizada pela autarquia liderada por Rui Moreira ganhou com isso, tornando-se mais aberta, com preços mais acessíveis no que toca ao aluguer dos stands e onde os participantes não se vêem hierarquizados, ficando todos no mesmo plano do ponto de vista da visibilidade. Isso mesmo é apontado pela direcção da Rede de Livrarias Independentes (RELI), que denuncia a organização levada a cabo pela APEL na feira de Lisboa, afirmando que esta “serve interesses, regras que beneficiam apenas uma parte dos associados”.

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A APEL anunciou que a feira deste ano será a segunda maior de sempre, contando com 117 participantes em 310 pavilhões, representando 638 editoras, livrarias e chancelas. Mas um facto decisivo foi a decisão de cortar em um terço o preço do aluguer dos pavilhões, um custo que é incomportável para muitos livreiros e editores, rondando os 2 mil euros. No Porto, o custo de um pavilhão desce para um quarto desse valor, e, este ano, a autarquia só exigiu aos participantes que pagassem à cabeça 20% desses pouco mais de 500 euros, sendo o remanescente pago no fim da feira. O certo é que a feira de Lisboa, mesmo no que toca ao aspecto foi sendo descaracterizada, e hoje é difícil reconhecer os relatos que nos ficaram de outras décadas, como quando Baptista-Bastos, numa reportagem recolhida no livro “As Palavras dos Outros”, descrevia como a encenação de um largo antigo, aquele que era o centro do mundo, referindo-se a essa espécie de teatro de rua que, por algumas semanas, nos lembra o que foi a amizade de bairro. “Ao estabelecer o encontro com o homem, na rua onde o homem e o livro se completam e entendem, a Feira não presta serviço aos grémios, não bajula os interesses dos editores, não namorica os livreiros: faz-nos ler, aconselha-nos a existir mais, pulveriza o tabu segundo o qual o livro é a uma torre e a palavra escrita uma palavra apenas perceptível por senhores circunspectos.” O jornalista e escritor desaparecido em 2017, ia ao encontro do que disse Elias Canetti, de que a leitura é esse vínculo essencial da nossa existência, pois se cada época perdesse o contacto com as anteriores, se cada século cortasse o cordão umbilical, estaríamos condenados a construir uma fábula sem porvir, e isso significaria que asfixiaríamos no nosso tempo, sem possibilidade de visitar ou possuir outros mundos. Nisto, Baptista-Bastos cunhou uma das expressões mais belas sobre o acto da leitura, afirmando que “o homem que lê é o devorador quotidiano das civilizações”.

Nos seus 90 anos, a Feira do Livro deixou já muitos homens, alguns vivos, tantos já mortos, a puxar pela memória, tentando discar os números nesse telefonema para a infância de que falava aquele jornalista. Nessa rua que a todos pertenceu, e que levou gerações a cultivarem os seus itinerários, por estes dias haverá uma sensação de estranheza, não só pela obrigação de usar máscaras dentro do recinto, como pelo facto de este estar vedado por baias de modo que se possa controlar o fluxo dos visitantes. E isto porque este ano será imposta uma lotação máxima de 3300 pessoas. Mas, na verdade, o que preocupa aqueles que gostam de descer o parque nos passos perros de quem vai estudando as sugestões dos livros expostos, o pior é a obrigação de desinfetar as mãos de cada vez que se pretenda manusear os livros. Porque esse é, afinal, o grande atractivo desta feira, o ir com as mãos sentir as partes vulneráveis, cheirar intimidades nesse território sujeito a uma trégua, já que, ali, oferece-se hospitalidade a bandos adversários, e, no espaço entre os pavilhões, aquelas barracas, vigora um insólito armistício onde as hostilidades cessam, os inimigos se roçam na promiscuidade dos expositores e bancas ou estantes, as fronteiras vão-se apagando e a leitura converte-se numa forma de reconciliação. Mas este ano, os visitantes são encorajados a vigiar-se, a vir respirar à tona das suas vidas de imaginação, para controlar os movimentos uns dos outros, cumprindo as regras de distanciamento impostas pela Direcção-Geral da Saúde, e receberão inclusivamente um manual de boas práticas distribuído pela APEL. Assim, tudo propiciará a dissolução dos últimos focos das antigas colónias de ratos cerebrais que Fialho de Almeida se lembra de ter descoberto em Lisboa nos seus vagabundos tempos de rapaz.

Se atrás falámos de um armistício, é chegada a altura de falar das tensões e dos desequilíbrios que persistem há muito no sector livreiro, e que em grande medida estão espelhadas na diferença entre a Feira do Livro do Porto e a de Lisboa, uma vez que naquela estarão representados num número bastante superior as livrarias independentes (15 ao todo, ao passo que em Lisboa estarão apenas três) que este ano, na sequência da imposição do confinamento, decidiram unir-se para montar uma defesa face a um ambiente que lhes era cada vez mais adverso, muitas vezes devido a manigâncias resultantes de práticas de concorrência desleal por parte dos grandes grupos que tomaram conta do sector. Em declaração ao i, a direcção da RELI garante que não é uma facção dissidente da APEL, mas uma associação que vem impor uma estratégia comum no combate a uma série de práticas que estão a promover a extinção das livrarias de bairro ou de proximidade, dessas históricas e tantas vezes modestíssimas lojas que vendem livros, e que criam esse entramado de relações que garantem que o futuro não se condena à ignorância, deixando de ter sempre o passado aberto nalgum dos seus inúmeros capítulos, com sublinhados e anotações à margem, com conselhos e algumas orientações para o caminho.

Assim, a direcção da RELI propõe-se contrariar o ritmo desenfreado com que o e-commerce tem vindo a impor-se, numa lógica canibalista, valendo-se da deficiente fiscalização por parte das autoridades competentes (ASAE) do respeito pela lei do preço fixo, com campanhas de descontos constantes e “violentíssimas” por parte dos grandes grupos económicos. Miguel de Carvalho, livreiro alfarrabista e tesoureiro da RELI, revela até que “já aconteceu, por várias vezes, uma livraria independente denunciar na ASAE os descontos ilícitos praticados numa Feira do Livro (organizada pelos grandes grupos) para, no dia seguinte, ser esta livraria a sofrer uma fiscalização da ASAE e do IGAC, ao passo que o denunciado persiste na ilicitude”. O livreiro que tem hoje um espaço na Figueira da Foz, adianta que há já 3 testemunhos de ocorrências destas no último ano. Por sua vez, José Pinho, que à frente das livrarias Ler Devagar, preside à RELI, deixa claro que, se esta associação não pretende rivalizar com a APEL, surge da urgência sentida pelos livreiros independentes de se unirem para “alterarem as modernas condições de comercialização dos livros, em que uma grande parte das editoras e o conjunto das redes livreiras distorcem sistematicamente as regras da concorrência ao promoverem campanhas ao cliente final com descontos superiores aos permitidos pela lei do preço fixo e bem superiores aos descontos que as editoras praticam em relação às livrarias independentes”.

A direcção da RELI, que congrega 76 livrarias espalhados por todo o território, e que tem, hoje, ao seu dispor a maior oferta livreira do país, adiantou ao i que tem em construção uma plataforma de vendas online que irá integrar o fundo de todas as livrarias interessadas, disponibilizando os seus catálogos. A RELI acrescenta que esta oferta é transversal, ou seja, constitui-se de livros novos, usados, esgotados, raros, ao passo que as plataformas da Porto Editora (Wook), da Fnac ou do grupo Leya estão limitadas aos livros novos.


in iOnline (Jornal i) – Diogo Vaz Pinto

https://ionline.sapo.pt/artigo/707012/livrarias-independentes-em-tempos-de-pandemia-um-manual-de-sobreviv-ncia?seccao=Mais_i

Da catástrofe lenta que há anos vinha condenando ao encerramento uma série de livrarias históricas e independentes, num aspecto a pandemia acabou por ser um estímulo à acção, forçando os livreiros a criarem uma rede que possa contrariar a asfixia do mercado e a concorrência desleal dos grandes grupos. Assim, se os últimos meses e, especialmente, o período de confinamento, foram difíceis, esta articulação é o primeiro sinal claro de uma estratégia comum de resistência, de um sinal de luta contra a morte anunciada das livrarias de proximidade.

Palavra de Viajante, Rua de São Bento, 34, Lisboa
Ana Coelho, 53 anos, livreira há 9 anos

Para uma livraria dedicada a viagens, o confinamento representa uma ameaça demasiado gritante: os guias de viagem e os mapas ficam nas prateleiras; em vez de aviões, o que paira no ar é a incerteza sobre a possibilidade de realizar viagens num futuro próximo. Então, a literatura de viagem e dos lugares pode ser o antídoto perfeito.
No comércio local, o contacto com o cliente é mais directo do que numa loja de uma grande cadeia, o que permite uma relação pessoal que ultrapassa em muito a mera transacção económica da compra anónima, por vezes de mero impulso. Desta forma, as pessoas envolvem-se na vida da livraria, empenhando-se por isso em contribuir para que ela se mantenha de porta aberta.
Foi sobretudo graças aos clientes habituais que conseguimos sobreviver a estes tempos difíceis, pois mantiveram encomendas e aquisições. Não fazendo descontos nem feiras do livro, não tendo site nem vendas online, reforçámos os contactos e a promoção via telefone e email, Facebook e envio de newsletters.
Por fim, foi muito importante a constituição da ReLI, pois permite ganhar escala, enfrentar os grandes grupos e a sua concorrência desleal, vincar a diferença e partilhar experiências.

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GATAfunho, editora e livraria independentes
Centro Histórico de Oeiras
Editora: 16 anos.
Livraria: 8 anos.
Ana Faria e Inês Araújo (mãe e filha, 61 e 27 anos)

Portas fechadas no início da pandemia. Actividades canceladas. De dois espaços, ficámos com um e, mesmo esse, fechado.
Mantivemos a «notícias do gato» e demos maior atenção à «loja online», continuando o contacto com os clientes, às vezes só para saber como todos íamos estando. As vendas «online» proporcionaram a continuidade de vendas a alguns clientes habituais, contacto com novos clientes – nacionais e no estrangeiro.
Pela primeira vez, em 15 anos, não participaremos na FLL. Não sentimos qualquer apoio por parte da APEL. Não houve informação sobre as novas regras para realização da FLL 2020, nem incentivo à participação. Alternativa: «festa do livro online e na livaria».
Muito correu mal – faltou apoio e o recebido tardou muitíssimo e foi parco.
Problemas que persistem – incumprimento da lei do preço fixo, fechando-se os olhos a descontos ao cliente final superiores aos descontos dados aos pequenos livreiros pelas editoras; rendas altíssimas, sem qualquer apoio ou regulamento, enfim…
A RELI, para nós, é uma luz ao fundo de um comprido túnel: todos temos voz, todos são convidados a participar, a trabalhar, a incentivar, independentemente da distância e da diversidade.
Mas o pior de tudo é que nos faltou o convívio directo com os clientes, os bons dias de quem passa, as risadas dos mais

José Pinho – Livreiro há 21 anos

A Ler Devagar foi fundada há 21 anos no Bairro Alto em Lisboa. Mais tarde, em 2007 fundou a Fábrica Braço de Prata e em 2009 instalou-se na LX Factory. Em 2012 criou as livrarias da Vila Literária de Óbidos.

A pandemia veio interromper um percurso ascendente que a Ler Devagar vinha experimentando nos últimos anos, tanto em Lisboa (na LX Factory) como em Óbidos, invertendo a tendência crescente de venda de livros novos e usados em português e em outras línguas. As vendas nos últimos 5 meses (Março a Julho) baixaram em média 85%, notando-se uma ligeira retoma em Agosto (-60%).

Durante o período de confinamento o Estado não assumiu por inteiro os encargos decorrentes da sua decisão de encerramento obrigatório das livrarias e não foi o apoio do Ministério da Cultura que veio atenuar os prejuízos das livrarias independentes, nem o da Ler Devagar em particular. Revestido da forma de subsídio a fundo perdido, tratou-se afinal de uma compra de livros. Esse facto fez com que, para os livreiros que o receberam – e a livraria da LX Factory nem sequer foi contemplada com essa “benesse” por não ser uma micro empresa – esse “apoio” se tenha traduzido num ganho de apenas 600 a 800 euros, conforme o desconto obtido na compra dos livros aos editores.
Ao longo dos meses, a Ler Devagar manteve os seus 20 livreiros em funções suportando a quase totalidade dos encargos, uma vez que os layoffs parciais têm contribuído com apenas cerca de 30% dos custos com salários.

Livraria SNOB
Existe desde 2013, em Guimarães de depois Lisboa, online e presencialmente em livraria física, feiras do livro e salas de estar de alguns leitores.

A SNOB sempre teve muitas caras, vendemos livros online, presencialmente, em livraria física ou em feiras do livro. Aquilo que tivemos de fazer em tempo de pandemia foi aproximarmo-nos mais dos nossos leitores reais, aumentar e acarinhar essa proximidade. Um bom leitor precisa sempre de livros, nenhuma crise o demove. Por vezes a proximidade com um leitor nem se traduz em vendas directas ou imediatas, a proximidade tem também lugar numa pandemia e numa crise financeira quando é importante continuarmos a falar de livros, conversar com os livreiros, e os livreiros conversarem com editores e leitores, mesmo com menos vendas. Durante toda a pandemia a SNOB continuou a vender novidades de editores independentes. Não perdeu o contacto diário com os clientes. Na pandemia apercebemo-nos de uma característica fundamental do ser independente – a nossa possibilidade de nos reinventarmos. Não há medos nem impossibilidades nem obrigações. Podemos escolher o caminho que quisermos e arriscar. Só a verdadeira independência permite este tipo de risco.

Livraria Letra Livre, Lda
Três Sócios: Carlos Bernardo, Eduardo de Sousa, Eugénia Gomes
Colaboradora: Andreia Baleiras
Livraria aberta desde 2006

CONTINUOU A LER-SE NO PERÍODO DE CONFINAMENTO!
Durante o confinamento apenas tivemos vendas através do nosso site e do facebook. Houve grande envolvimento dos nossos clientes habituais, preocupados em que a livraria continuasse a funcionar ainda que em moldes diferentes. Apostámos mais no facebook com listagens semanais de livros e boletins temáticos. Houve naturalmente uma quebra significativa mas, apesar de tudo, conseguimos manter o contacto com os nossos clientes habituais e conquistar novos clientes pela Internet.
Com a criação da RELI, em que estivemos directamente envolvidos junto com outros colegas livreiros e alfarrabistas, apercebemo-nos que poderemos ser bem mais fortes se as pequenas e independentes livrarias se juntarem e desenvolverem uma acção em comum. Ficámos a conhecer-nos melhor assim como os problemas de cada um. Como se diz no manifesto da RELI: « É uma associação livre de apoio mútuo composta por livrarias de todo o território português sem ligação a redes e cadeias dos grandes grupos editoriais e livreiros». Juntos teremos mais força na exigência de um desconto livreiro único que permita a todas as livrarias terem as mesmas condições comerciais, na defesa da lei do preço fixo e de uma política pública do livro que leve à aquisição regular de livros por parte do estado e das bibliotecas junto das livrarias independentes. Muita coisa há a fazer ainda mas acreditamos que um grande passo foi dado, a visibilidade desta Rede de Livrarias Independentes, que reúne livrarias de todo o país, e as propostas levadas ao Ministério da Cultura deram já alguns resultados positivos a favor das livrarias independentes.
A APEL manteve-se, mesmo neste período de crise, afastada dos problemas das pequenas livrarias (e editoras) independentes, não tendo desenvolvido nenhuma acção relevante na defesa do sector, principalmente daqueles que mais dificuldades têm de resistir à crise económica provocada pela pandemia, que é ampliada por uma crise mais profunda no sector do livro que já vem de trás. Quanto à APEL mantém-se há bastante tempo centrada na defesa dos grandes grupos editoriais e livreiros e dos seus interesses no campo do livro escolar que é o mais importante negócio do ramo.
Lisboa, 25.08.2020

A Leituria, fundada em 2015, é a pele de Vitor Rodrigues, 51 anos, livreiro há 24.

Creio que vivemos uma Idade do Gelo cultural, e não me refiro à pandemia, mas sim a um fenómeno de concentração económica crescente, desde há décadas, que deixa pouco espaço para os pequenos intervenientes. Por isso as estruturas têm-se tornado cada vez mais pequenas e mais leves: ganham agilidade e capacidade de adaptação. A Leituria passou dum espaço de 220 m2, numa rua nobre, para dois minúsculos espaços que, juntos, não totalizam sequer 50m2, numa rua periférica. Apesar desse emagrecimento, teve também que mudar de dieta. Por gosto e por necessidade, tornou-se uma livraria de usados, com excepção dos livros novos de pequenas editoras, que contribuem para a sua identidade, completamente arredada das grandes editoras actuais. Somos, como muitos, pequenos mamíferos que, para sobreviverem e prosperarem, precisam de se ajudar mutuamente e viver nas sombras. O tempo dos dinossauros, mais tarde ou mais cedo, chegará ao fim.

Livraria Fonte de Letras, Évora – 20 anos em 2020
Helena Girão Santos, 55 anos, sócia-gerente e livreira
CONTINUOU A LER-SE NO PERÍODO DE CONFINAMENTO!
A Fonte de Letras decidiu que não poderia parar. De um dia para o outro, criámos uma campanha que divulgámos nas redes sociais e por newsletter: “BASTA COMPRAR UM LIVRO POR MÊS NUMA LIVRARIA PARA QUE ELA SOBREVIVA A ESTA CRISE. JÁ COMPROU O SEU?”
Enviávamos livros por correio, entregámos ao domicílio nas zonas de Évora e Montemor-o-Novo e levámos livros à porta da livraria.
A campanha funcionou! O público das livrarias independentes acarinha as suas livrarias e foi o que fez. Isto permitiu que o negócio descesse “apenas” à volta de 30%.
O TIPO DE NEGÓCIO ALTEROU-SE BASTANTE
Criámos um site, as encomendas chegam por messenger, e-mail, Whats App, telefone. Dá muito mais trabalho ao livreiro vender um livro e um bom livreiro é fundamental. Os clientes pedem mais aconselhamento: de acordo com idades, tipos de leitura. O serviço é mais personalizado e exigente.
O SALTO DA RELI
A criação da RELI deu-nos mais visibilidade junto de um público a nível nacional e força negocial no mercado livreiro.

Évora, 25.08.2020

Booki – livros técnicos – www.booki.pt (livraria)
Quântica Editora – conteúdos especializados – www.quanticaeditora.pt (editora)
César Santos, 39 anos, livreiro, coordenador editorial, responsável de comunicação de editora e livraria, desde 2007, com interrupções e várias funções.

Durante o confinamento, as vendas aumentaram, pelo trabalho constante desde há anos na vertente online, pelo carácter diferenciado dos livros técnicos, e porque os os centros de cópias estiveram fechados.
O teletrabalho foi apoiado numa pessoa destacada para o envio e expedição, ficando a restante pequena equipa (mais duas pessoas) em contacto permanente.
As Feiras do Livro nunca são feitas por motivos exclusivamente comerciais, servem mais para estar próximos dos leitores/clientes e marcar posição da marca como referência. Isto apesar do sucesso obtido em ambos os níveis nos anos anteriores.
Este ano os resultados prevêem-se piores pois entre o desejo dos leitores/clientes em visitar e comprar livros, as restrições, os receios, e até o menor poder de compra evitarão que a natural vontade das pessoas se concretize.
Os receios advêm da possível queda do poder de compra, e da concorrência desleal e injusta no mercado e meio editorial e livreiro em Portugal, que aliás se nota no valor pago para estar presente e nas praças que os grandes grupos têm, em vez de se destacarem por exemplo praças temáticas.
Como livraria e editora de livros técnicos (e tendo já passado por livrarias/editoras ditas generalistas), nota-se que o âmbito e tipo de trabalho e objetivos são diferenciados. Talvez por essa razão não sejamos tão reconhecidos, ao ponto dos apoios ao Ministério não tenham contemplado livrarias de temas técnicos.
Há, não só neste período, mas de forma crónica e sistémica no meio editorial, livreiro e cultural, males que fazem com que a «cultura» sirva apenas para encher discursos e não se concretize em medidas. Apontarei por isso alguns pontos concretos que poderão significar não só a sobrevivência dos agentes neste meio, mas sobretudo a justiça concorrencial e tendente ao melhor acesso a conteúdos para a população, que é talvez o maior objetivo a que devemos propor-nos.
1- Alterar radicalmente a Lei do Preço Fixo e a forma como se aplicam margens comerciais.
2- Criar normalização da Prescrição de Livros – em especial, os livros utilizados no meio universitário e formativo.
3- Combater qualquer tipo de Cópia que não seja estritamente.
4- Finalmente, utilizar melhor os fundos e meios à disposição, em vez de serem «capturados» pelos interesses do meio de forma a marcar ainda mais o monopólio por falta de justiça e desconhecimento do meio (tenho material de investigação nestes âmbitos, com algumas informações polémicas sobre o meio editorial e livreiro).

Rimas e Tabuadas – Guimarães
Sócias: Sílvia Lemos, 45 anos e Rita Laranjeiro, 40 anos
Experiência: 3 anos

Abriu em 2017, marginal e inesperada, num tempo em que já se dizia que os livros tinham os dias contados. O projeto é uma vontade de provocar a surpresa através dos livros e dos momentos à volta de uma mesa de café. Aqui o valor está nos livros e nas pessoas para partilhar leituras, nos encontros temáticos, nas viagens literárias e nas apresentações de livros e conversas com autores.
A pandemia causou a perda destas experiências literárias de proximidade e abalou as receitas. Reinventamos o negócio através de contactos com os clientes e entregas ao domicílio. Grande valor atribuímos à RELI da qual fazemos parte desde o início. A partilha de ideias e campanhas de livreiros unidos levou-nos bem mais longe do que a muralha do Centro Histórico. Passamos a fazer envio de livros para diversos pontos do país. Contudo a existência de grandes promoções de editoras com descontos que nem às livrarias aplicam, são entraves ao nosso trabalho.
Estamos a agendar eventos, ao ar livre, criando parcerias com artistas e com outras áreas de negócio de modo a investir na promoção dos livros.

Adelino Pires, 64 anos
Livreiro Alfarrabista
(desde 2008)

O velho normal

Pediram-me um texto sobre esta coisa dos livros, sobre o que é isto de andar aos papéis, mergulhado nas histórias de uns e de outros, de muitos que sem o saber, também estarão por aqui. Entrar no mundo dos outros, como diria o Gomes Ferreira, devassar almas, subir degraus, desembrulhar memórias e segredos fechados a sete chaves, sem códigos nos cadeados, ser confidente sem ser padre, num confessionário sem bênção, sem rezas, nem ladainhas.
Ser alfarrabista é tudo isto. Uma (a)ventura inquietante diria o Rodrigues Miguéis, uma descoberta incessante, um autor que se reencontra, um manuscrito escondido, um desabafo envergonhado, tanta e tanta discrição. E o escrevinhador agradece, mesmo que lhe falte o tema, há sempre alguém que aparece. Afinal, antes que chova, haja sempre algo que nos mova.
No velho normal, o que há de novo é acharmos novo o que já é velho. Para o Tê, a gente não lê já de há muito. Por aqui, pelo (quase) deserto de um histórico centro de uma cidade interior, a diferença entre ter a porta aberta ou fechada, é apenas de corrente de ar. Sempre o mesmo, sempre os mesmos.
Fora de rota, mais monge que missionário, os livros, esses, mudam de sítio, à espera que mudem de mãos. A net, essa, dá uma mãozinha e o escrevinhar por aí faz o resto.
E às tantas, algures num discreto apeadeiro, apanho o comboio da RELI. Devagar, devagarinho, mastigando o tempo, entro numa das carruagens, sento-me e deixo-me ir. Sinto que outros fazem a mesma viagem. Será longa, pelas linhas daqui e dali, com estações e apeadeiros, que isso dos TGV será para outros.
No velho normal, há um comboio a apitar.

Doutro Tempo – Livraria Alfarrabista


in SOL – Diogo Vaz Pinto

https://sol.sapo.pt/artigo/716630/os-descontos-que-estao-a-dar-cabo-das-livrarias-independentes

Numa altura em que, devido à pandemia, a regra do jogo no sector do livro passou a ser o salve-se quem puder, instalou-se uma guerra de todos contra todos, em que as grandes plataformas digitais aumentam a parada em termos de campanhas de descontos para aproveitar as vendas de Natal, e os próprios editores, mesmo os independentes, procuram vender directamente aos leitores, deixando as livrarias pelo caminho.

Na aproximação ao Natal, particularmente num ano incaracterístico como este, em que a peste, para lá das vítimas e dos constrangimentos sociais, parece ter-nos apresentado uma crua radiografia do regime de consumo em que estamos imersos, ficou claro também como é fácil estalar o verniz e instalar-se um verdadeiro campo de batalha. Em grande medida, é o que está a acontecer no sector dos livros, uma guerra de todos contra todos, em que as barricadas opõem por estes dias agentes que antes colaboravam num mercado que tradicionalmente se fazia valer de três componentes: editores, livreiros e leitores. Isto mesmo disse ao Sol a direcção da Rede de Livrarias Independentes (RELI), uma associação de apoio mútuo cuja falta há muito se fazia sentir e que acabou por vencer velhas resistências e ir para a frente assim que ficou claro o impacto que a pandemia iria ter no sector, penalizando primeiramente aqueles que estavam já numa posição mais débil, e agora ainda mais exposta. Antes sendo empurrados do centro das cidades pela especulação imobiliária, e agora enfrentando uma ameaça extraordinária pelo impacto das medidas de contenção no comércio tradicional. Mas o que está a agravar decisivamente as dificuldades sentidas por tantas das cerca de 90 livrarias que integram esta rede são os modelos de adaptação das grandes redes livreiras, as quais, através das suas plataformas de venda online, através dos pouco escrupulosos métodos a que antes já recorriam, têm contornado agora de forma sistemática a Lei do Preço Fixo.

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“Raro é o dia em que uma das grandes redes de livrarias não esteja a oferecer descontos nas suas lojas físicas ou nas suas plataformas online”, denuncia a RELI. E no caso específico da Wook, foram contabilizados os dias em que, ao longo deste ano, e em campanhas amplamente divulgadas, foram aplicadas aos livros promoções de feira, ultrapassando os 25 dias que a lei permite, isto contabilizando a campanha que está a decorrer actualmente, que começou no dia 25 de novembro e que irá prolongar-se até 11 de dezembro. A Wook fechará, assim, o ano tendo realizado descontos durante 38 dias, mais 13 do que o permitido pela lei. E é importante recordar que, recentemente, esta plataforma promoveu um desconto de 100% sobre os livros do seu acervo, o qual seria pago e depois devolvido ao cliente em cartão. A RELI lembra ainda que outro dos descontos promovidos por uma destas plataformas chegava aos 50% e incidia sobre livros novos, numa clara violação da Lei do Preço Fixo – a qual impede descontos superiores a 10% em livros com menos de 18 meses. A associação dos livreiros independentes vinca ainda que, através desta promoção, aquela plataforma oferecia ao cliente final um desconto superior àquele que é feito às livrarias independentes. E, tratando-se de uma prática recorrente, a RELI diz que isto ilustra bem “as enormes diferenças nas condições comerciais com que nós e as outras livrarias independentes concorrem com os grandes grupos”. De resto, os livreiros independentes fazem questão de notar que também eles são clientes destes grandes grupos editoriais que concentram também as redes livreiras, e esperam que haja da parte do governo central uma actuação no sentido de fazer respeitar a lei, seja fiscalizando seja penalizando de forma mais severa aquelas entidades que não se importam de pagar as coimas na rara ocasião em que estas são aplicadas pelo IGAC.

As declarações que a direcção da RELI fez a este jornal não se limitam a focar estes desequilíbrios no sector do livro, mas vão mais fundo, e reflectem sobre a forma como “os descontos permanentes distorcem o mercado”, desgastando um sector que depende como poucos de um vínculo com tradições ancestrais. Assim, aponta o dedo à forma como “uma economia completamente desregulada” ilustra a perda de ética que está na base do “capitalismo selvagem”, abrindo caminho a um regime de “canibalização” que se define “pela total falta de escrúpulos” na relação entre os diferentes agentes do sector. E tudo isto surge dissimulado na lógica publicitária montada à volta de tudo o que diz respeito ao livro, todas essas achacantes campanhas de promoção à leitura, multiplicando-se até à vertigem textos desnecessários, avisos que mal nos permitem movermo-nos através de um mundo que continua a apagar-se a uma velocidade que se aproveita de todas as crises para acelerar, degradar o sector, ficando a sensação esmagadora de que tudo se lê para o esquecimento, que todo o fulgor será descartado em nome de ganhos imediatos, que todos os valores serão apagados por quaisquer trivialidades.

A RELI diz ao Sol que, hoje, o seu principal objectivo está identificado: “impedir as sistemáticas promoções das grandes redes livreiras ou dos editores nos seus sites, que prejudicam principalmente as pequenas livrarias independentes. Bem como uniformizar os descontos livreiros concedidos pelos editores e distribuidores às pequenas e médias livrarias”. Esta associação reconhece a diferença que separa os médios e pequenos editores dos outros, mas se admite que também eles são pressionados pelos grandes grupos livreiros, que lhes exigem descontos muito superiores aos tradicionalmente praticados (30%), levando a um aumento dos preços de venda apenas para depois virem com a fantochada dessas campanhas artificiais, no entanto, boa parte dos livreiros com quem temos falado, não deixa de ver a hipocrisia na forma como tantos dos supostos editores independentes, desde os melhor adaptados ao modelo dos vendilhões até àqueles que se dizem muito insolentes, nenhum deles perdeu tempo a criar todas as condições para fomentar a venda directa, passando a perna às livrarias. Assim, a RELI nota que, “com a contração da procura causada pela pandemia e pela crise económica que se agrava, enfrentamos também a concorrência dos próprios editores que promovem a venda directa aos clientes de novidades, adicionando ao desconto permitido por lei a oferta de portes e ainda outras ofertas exclusivas”.

Aos poucos, o modelo do salve-se quem puder tem levado a que as componentes que mantinham entre si um pacto que animava a vida deste sector se atraiçoem por 30 moedas, pondo em xeque a ideia de que cada um desses elementos devia funcionar como uma oficina de leitores, como uma instrução que permite que se compreenda o papel que cada um tem nesta fina trama, nesta longa e ancestral cadeia de relações. De resto, embora nunca ninguém se tenha lembrado de dar o ofício do livreiro como algo de dispensável, é isso o que está a ser ensaiado, quebrando um vínculo essencial entre livreiros e leitores, esses caracteres aliados numa melancolia fantasiosa, partilhando aquele apreço desmesurado pelos livros que faz com que, na sua maioria, sejam tidos por loucos de um género inofensivo. Mas estes loucos também farão parte de uma nação qualquer, ainda que a inventem, a montem e desmontem aqui ou ali sem que, muitos vezes, nos apercebamos disso. E é com o compromisso de contrariar a tendência para o comércio dos livros se transferir inteiramente para o mundo digital, mas sem desconsiderar as suas vantagens que a RELI reafirma como sua actual prioridade a tarefa de construir uma plataforma de venda de livros, a qual pretende ser a maior base de dados nacional. Isto ocorrerá à semelhança do que aconteceu há poucas semanas em Espanha, com mais de 150 livrarias independentes a oferecerem, por fim, uma alternativa à Amazon, unindo-se para lançar o site Todostuslibros.com. Enquanto esperamos algo do mesmo género deste lado da fronteira, a RELI pede aos leitores que não se rendam, e enviou ao Sol ainda algumas frases de ordem ao sabor do Manifesto Anti-Dantas: “Morra a Amazona, morra, porra!/ Sermos governados por algoritmos sem ritmos ou com ritmos a mais ou com arritmias era Wuk mais faltava!/ Abaixo a digitadura, viva a analogia! (…)Viva a ana logia, viva a ana cronia, morra a ana conda!/ O diabo que a carregue, por muito que pese, e morra!”

No meio disto tudo, há quem não veja mal nenhum na tendência para os livros se tornarem artigos desses que se encomenda por catálogo, na internet, e então o mais fácil é lembrar que quando os livros começam a perder aquele aroma de vida quotidiana, não haverá neles quaisquer sinais desse tráfico pouco razoável, as cicatrizes que ajudam a despertar no leitor aquele sentido do sublime identificado por Coleridge, frisando, contudo, que este “surge não da visão de um objecto exterior, mas da reflexão que o observador faz dele; não da impressão sensorial, mas do reflexo imaginativo”. Já Alberto Manguel diz-nos que o poeta descarta a “impressão sensorial” com demasiada ligeireza, defendendo que, “para que essas imaginações nocturnas floresçam, tenho de permitir que os meus outros sentidos despertem – ver e tocar as páginas, ouvir o amarrotar e o farfalhar do papel e o temível estalido da lombada, cheirar a madeira das estantes, o perfume almiscarado das encadernações em pele, o cheiro ácido dos meus livros de bolso amarelecidos”. É isto tudo o que vai fazendo com que o livro seja um objecto e um ser de espécie muito incerta, variável, sujeito a elaborações e discussões, ora se afundando, ora vindo à tona das águas da inteligência e do paleio. Mas sem a sua própria viagem, essa que deixa nele uma segunda série de sinais, não tão legíveis, perde-se a capacidade de deslize para a ficção, fica um objecto esvaziado daquele clamor do que resta, contando a sua aventura, como destroço de um naufrágio a caminho de outro. Diz-nos Irene Vallejo que a paixão do coleccionador de livros é parecida com a do viajante, e que todo o livro é um passaporte sem data caducidade. Mas hoje os próprios livros viajam pouco, não trazem o perfume de estranhas demandas, nem os sinais de uso, de desgaste, de sobrevivência num mundo caótico, terrivelmente caprichoso. É difícil hoje imaginá-lo como um elemento de ligação entre essa “peculiar fauna de negociantes astutos, delinquentes, aventureiros e vigaristas com paleio” que ainda buscam por oportunidades nas terras virgens que possam restar-nos. Há mais de um século, a mais lendária revista literária que se criou entre nós, via um bando de jovens assinarem uma carta de navegação entre mares nervosos em busca de “um exílio de temperamentos de arte que a querem como a um segredo ou tormento”. Hoje, os livros esfriam muito cedo nas mãos dos leitores, para quem começa a importar menos o título ou o cuidado material e gráfica, a sabedoria envolvida, do que um saldo. Este contenta-se com a breve satisfação de ter caçado um ser perdido da sua espécie, um ser em declínio, transformado numa mera pechincha.

Como sabe quem ainda vai frequentando livrarias, as melhores, as que arriscam, têm em si formas de imaginar o futuro, de interpelá-lo, estando dedicadas, paradoxalmente, a esse “ofício que luta contra os rigores do tempo trazendo fragmentos do passado para o presente” (Manguel). Quem se submerge no seu “silêncio sonoro”, tentando apanhar uma pista para si entre esses ecos, sussurros e cochichos que tornam a sua atmosfera tão vibrante, são caçadores que afiam as suas armas pacientes, alimentando-se de uma antiguidade fabulosa. As bibliotecas que nascem passando ao lado do lançar de dados de cada vez que se visita uma livraria perdem algo desse “caos da descoberta e da criação num sistema estruturado de hierarquias ou daquele alvoroço de associações livres”. E há algo mais que se perde, pois as livrarias enquanto espaço físicos, dimensionam também as cidades. Essas livrarias que não se atêm a um modelo puramente convencional, organizando as suas prateleiras apenas com o intuito de promover as vendas, mas que reflectem de algum modo uma rede de saberes, juízos e preferências dos livreiros, enchem a malha citadina de passadiços, zonas secretas, criam uma forma de nomadismo em percursos que parecem estrangulados pela repetição. Como nos diz Jorge Carrión, “não são só os corpos dos leitores que ligam entre si, com o seu movimento, as diferentes livrarias das cidades, pois também os livros são móveis e errantes, abrem linhas de fuga, criam itinerários”. Este escritor tão empenhado na luta pela anacronia face à expulsão destes pontos de conexão com o imaterial no regime topográfico, lembra-nos que “a rua, a livraria, a praça e o café configuram as rotas da modernidade como âmbitos de duas acções fundamentais: a conversa e a leitura”.

A própria flânerie, essa errância algo contida e que se vai aproveitando de momentos ou espaços de ociosidade, alegra-se com essa actividade de leitura superficial, em que a visão deixa para o tacto e até para o olfacto a formulação de apreciações críticas. Não há leitor que não tenha apreciado a leitura desse livro meio descosido, consultando prateleiras de lojas ao ar livre, alfarrábios, bancas de feira. Mesmo o Sr. Jean Follentin, protagonista de “À Deriva”, de Joris-Karl Huysmans, sem esconder um insanável desgosto, entrega-se ainda assim a essas visitas, essas inspecções, e parece inspirar algo da atmosfera do seu tempo, retirar alguma coisa da decepção com que passa os olhos e se dá conta de que “a maior parte dos volumes amontoados nos caixotes eram refugos de livraria, monos sem valor, romances nados-mortos, pondo em cena mulheres da alta sociedade, narrando numa linguagem de porteira os acidentes do amor trágico, os duelos, os assassinatos e os suicídios; outros sustentavam teses, atribuindo todos os vícios às pessoas titulares, todas as virtudes às pessoas do povo; outros, finalmente, perseguiam um fim religioso; estavam revestidos da aprovação de monsenhor de tal e diluíam colheres de água benta na mucilagem de uma prosa viscosa”. Como se vê, esta passagem da breve novela de 1882, que foi publicada, entre nós, há poucos meses, com o selo da VS Editor, mantém uma inequívoca e até atordoante actualidade. Vale a aproveitar o desvio para elogiar esta tradução de Diogo Paiva, que traz para a nossa língua uma obra cheia de humor e vitalidade, uma obra menor e, talvez por isso mesmo, tão cintilante, num registo em que a resignação do personagem contrasta com a sumptuosidade da prosa, evita também o incómodo de um faustoso enredo, cheio de personagens e acontecimentos, desses articulados com grande premeditação, revelando-se um saborosíssimo exercício literário que se faz de não achar em si um gosto pelas coisas, nem vícios nem desejos ou paixões. É um livro que exprime bem aquela desolação de se chegar ao fim do dia, ter o estômago aos roncos, e não se conseguir comer o raio de um bife decente nesta terra.

Huysmans monta o fio narrativo a partir de um quotidiano raso, dos agastes de um empregado de escritório, solteiro, e que não meio de se iludir com qualquer desses modos de dissolução viciosos ou mesmo obsessões inofensivas, como as dos bibliófilos. Assim, o Sr. Follantin dá por si a invejá-los. “Todos lhe eram simpáticos; adivinhava neles bons maníacos, pessoas honestas e tranquilas, passando pela vida sem ruído, e invejava-os. ‘Se eu fosse como eles’, pensava; e já tentara imitá-los tornar-se bibliófilo. Consultara catálogos, folheara dicionários, publicações especiais, mas nunca descobrira peças curiosas, e aliás adivinhara que a sua posse não iria tapar esse buraco de tédio que se cavava lentamente em todo o seu ser.”

A inveja do Sr. Follantin tem a sua razão de ser. E mesmo quem, por alguma razão, se sente à margem do fascínio produzido pelos livros nalguns leitores, reconhece esse apelo, identifica-o nos outros. De resto, mais do que uma obsessão ou um vício, os livros chegam a ser um amparo e até uma tábua de salvação como reconheceu G.K. Chesterton. “Existe provavelmente mais do que um velho coleccionador, cujos amigos e familiares dizem que é louco pelos livros dos Elzevirs, quando a verdade é que são os livros dos Elzevirs que o mantêm lúcido. Sem eles o coleccionador cairia numa ociosidade e numa hipocondria que lhes destruiriam a alma; mas a regularidade soporífera das suas anotações e dos seus cálculos ensina a mesma lição do movimento do martelo do ferreiro ou do passo arrastado dos cavalos do lavrador: a lição do ancestral senso comum das coisas.”

E parece ser a exaltação deste ancestral senso comum aquilo a que Follantin nos incita ao reconhecer a forma como Paris se estava a tornar uma “Chicago sinistra”, sentindo no ar “um vago cheiro a prostituição [que] escapava dessas lojas em que os olhares dos comerciantes conseguiam abreviar o regateio dos compradores”. Diz-nos que estamos condenados a ver os centros deslocarem-se e, com eles, “todos os antiquários, todos os vendedores de livros de luxo vegetam neste quarteirão e fogem, assim que expiram os seus contratos de arrendamento (…) E, completamente melancolizado, o Sr. Follantin repetia-se: ‘aproveitemos o tempo que nos resta antes da invasão definitiva da grande velhacaria do Novo Mundo!’”